A Modernidade Superada Arquitectura, Arte e Pensamento do Século XX
(Josep Maria Montaner)
Segunda Parte - Recensão Crítica
Uma segunda fase no conceito de modernidade inicia-se por volta de 1930, mediando problemáticas de carácter ambivalente, já que o núcleo do novo vocabulário aparece convergente por analogias biológicas, na pós-representação clara do edificar da pintura figurativa da paisagem – desenvolvida na Holanda e na Inglaterra –, pouco interessante. Surge o picturesque, por outro lado, associado ao lugar fomentando uma ideologia superada do recente iniciado movimento moderno com Frank Lloyd Wright, que deixou de recusar a máquina e a produção industrial, vistas até então, como inexistentes e impenetráveis. Passou a considerá-las como um elemento importante para o processo do desenho em projectos geométricos e poligonais, inscrevendo a colmatagem viva do analítico natural com a utilização de materiais tradicionais. Por outro lado, esta cultura do organicismo cresce perenemente nos países nórdicos da Europa com os arquitectos Alvar Aalto e Erik Gunnar Asplund, e nas primeiras Siedlungen alemãs duma postura de respeito pela paisagem de Ebenezer Howard.
Todavia, num cronológico atabalhoado, são estabelecidos novos protótipos do espaço moderno, na subjugação directa do pensamento/projecto onde, o próprio Le Corbusier (assim como Lúcio Costa, Arne Jacobsen e Joseph Lluís Sert – membros da geração seguinte) recorreu à arquitectura vernacular; posta também em construção mais tarde pelos arquitectos do GATEPAC e do GATCPAC, com Fernando Garcia Mercada na Espanha e na Catalunha. O autor aqui revela-nos sabiamente a densidade criteriosa dos movimentos de vanguarda do doutrinário de Le Corbusier. A quase vigência de mitificar os trabalhos conscientes modernos numa supremacia das suas particularidades nervosas formativas. Em pequena escala, o lugar é formatado pelas sensações dos cinco sentidos do Homem e, na grande escala, é consolidado pela permanência incauta justa ecológica, para destacar as existências ambientais da paisagem, enquadrando de maneira feliz, a pequena escala.
Enquadrada está portanto a Carta de Atenas, cuja expressão reivindica o racionalismo puro na recuperação da ideia de lugar encaixilhando o Homem nas puras máximas sociais, económicas, psicológicas e, fundamentalmente, culturais; em coexistência com a metrópole urbana e no bucólico crescimento rural. Ainda aqui, o autor leva-nos numa viagem pela arquitectura vernacular dos pós-modernistas na conclusão dimanada das premissas dos Paradigmas da Arquitectura Adaptada ao Lugar: desde o mexicano Luis Barragán, ao catalão José Antonio Coderch, passando por Fernando Távora e na continuação serena da obra de Álvaro Siza Vieira, em Portugal. Desde o dinamarquês Jørn Utzon, a Roberto Burle Marx, no Brasil, pelos seus jardins e pelos seus parques. Insinuando as variadas obras pessoais de cada arquitecto desde a América-Latina, passando pelo Brasil e pela Europa Mediterrânea e do Norte. Bruno Zevi, contudo, afirma que “não existe um único caso em que um arquitecto se tenha relacionado com o ambiente e tenha alcançado resultados positivos. Tal veredicto poderá parecer peremptório mas, se falarmos de factos e não de hipóteses, louváveis intenções e desejos pios, há que verificá-lo. A inércia chauvinista ceifou demasiadas vítimas para legitimar discursos que agradassem a todos. (…) No entanto, as nossas distorções culturais, principalmente as teses ambientais dos conservadores, se não têm resultados criminosos, provocam letargias longuíssimas e profundas.” Caso infeliz para Josep Maria Montaner ao cometer um esboço preciso mas enfadonho, na pertença de comparações urbanistas ambientais no ensaio A Relevância do Lugar na Arquitectura Actual, apenas satisfatória na aparência da temática modernismo tardio e pós-modernismo no lavrar lugar e não-lugar.
Aparentemente a crise contemporânea vincula-se pelo futuro transparente do não-lugar, germinado das consequências da humanidade quanto ao seu desenvolvimento. Por isso, a supermodernidade, segundo o etnólogo Marc Augé, é caracterizada pelas figuras de excesso: superabundância factual, superabundância espacial e individualização das referências, correspondendo a transformações das categorias de tempo, espaço e indivíduo. O excesso de espaço, paradoxalmente, constitui-se pelo encolhimento do mundo, que provoca a alteração da escala e a produção de não-lugares – aeroportos, vias-rápidas, salas de espera, centros comerciais, estações de transportes, campos de refugiados –, por onde circulam pessoas e bens.
Os não-lugares, produtos da contemporaneidade, opõem-se à noção de lugar antropológico, designado desde Mauss por uma tradição fundada na ideia de totalidade. Efectivamente, Josep Maria Montaner, neste separador ensaísta A Dissolução Contemporânea do Lugar: Espaços Mediáticos, Não-Lugares e Ciberespaço, aprofunda consequentemente a dissolução de lugar entre espaços mediáticos e ciberespaço, numa rigorosa pós-previsão crítica pessoal do resultado natural, provável ou forçoso do crescimento do arquitecto de hoje, indo de encontro ao Homem e ao Poder; às minorias e às extravagâncias da antropogénese: o “aumento ou redução de uma população, prosperidade ou decadência da cidade, demolição de muralhas que se tornam asfixiantes, novos meios de transporte ampliando a zona de trocas, aparecimento do maquinismo, tudo é movimento. (…) A morte atinge tanto as obras como os seres. Quem fará a discriminação entre aquilo que deve subsistir e aquilo que deve desaparecer?” já então escrito nesse manifesto urbanístico resultante do IV Congresso Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM), em 1933: a Carta de Atenas.
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