Adulto e criança mal educados
(Luiz Carlos Fernandes Navarro)
Há mais de dois anos, a paternidade encheu-me de alegria, o nosso lar ganhou uma temporã, a terceira menina, após 17 anos da ex-caçula. Este advento trouxe, além das responsabilidades peculiares, o desafio de educar uma criança num ambiente de adultos. Neste sentido procurei atualizar-me sobre pedagogia, e tenho observado com muito mais atenção a maneira de como os jovens pais, babás, avós e educadores em geral têm lidado com os seus pupilos. Infelizmente estou decepcionado! Descobri duas tristes e preocupantes realidades, a primeira é que as crianças estão sendo tratadas como se fossem adultas, e a segunda é que os adultos estão sendo tratados como crianças...A constatação da primeira realidade foi nos parques infantis, aos quais passei a freqüentar compulsoriamente todo final de semana - quem tem filhos nesta idade sabe sobre o que estou falando – lá pude perceber o péssimo tratamento que as despreparadas e improvisadas “educadoras”-babás dispensam aos seus tutelados, incapazes e impotentes, no intuito de controlar e conter os serelepes querubins os constrangem, os humilham, os tolhem e mal tratam. E como último recurso, os ameaçam com a alcagüetagem aos ausentes pais. Os exemplos são muitos, alguns me chocaram mais. Como no caso da menina com uns três anos de idade, que era espezinhada por sua própria mãe sistematicamente através de comandos negativos: “Não suba aí, você sabe que vai cair”; “Não escorrega, você não gosta disto”; “Você não sabe brincar com as outras crianças”; “Não mexa nos brinquedos dos outros”; “Vamos embora sua chorona e enjoada”; “Olha como você está imunda, sua nojenta.” Isto, quando não são submetidas ao seu algoz adulto através das pequenas agressões em público como puxões de orelha e de cabelo, beliscões, empurrões, gritos e outros absurdos. A fase crucial no desenvolvimento do ser humano, ou seja, nos seus primeiros sete anos de vida, o circuito cerebral estabelecerá bilhões de conexões nervosas, e caso haja restrições ou inibições impostas por enquadramento comportamental, esta criança será um adulto limitado. Graças aos avanços tecnológicos, como o mapeamento do cérebro, a neurociência tem demonstrado e comprovado esta afirmação. Alguns sistemas pedagógicos, como a pedagogia Woldorf, estão preparados para atender e lidar com as crianças do novo milênio, com uma abordagem moderna e adaptada à novas exigências desta geração que comporá os líderes do futuro. A segunda constatação - homens, mulheres e jovens amadurecidos são tratados como se fossem crianças - é tão preocupante e prejudicial à sociedade quanto a primeira. No mundo corporativo, no ambiente universitário, nos centros de formação tecnológica e noutros este público é educado e treinado através duma abordagem pedagógica, inadequada e ineficiente às suas necessidades de conhecimento e aprendizagem.No entanto, há uma luz no fim do túnel – e com certeza não é um trem -, mas uma nova postura na aprendizagem de adultos. Trata-se da Andragogia, criada pelo norte-americano Malcolm Knowles, ela é resultante de conclusões a que chegaram diversos pesquisadores e educadores. Na verdade as idéias sobre a ANDRAGOGIA já não podem ser consideradas somente uma formulação teórica, pois existem inúmeras experiências bem sucedidas de sua aplicação. Mas, o que é a Andragogia? Segundo Knowles, ela é a “arte e a ciência destinada a auxiliar aos adultos a aprender e a compreender o processo de aprendizagem dos adultos".“A Andragogia parte da premissa de que muitos dos problemas hoje existentes na educação de pessoas adultas - e nisso inclui-se o ensino superior - estão associados com a adoção de um modelo pedagógico" para o ensino de adultos, isto é, os alunos adultos vinham sendo tratados, utilizando-se dos recursos da Pedagogia que é o estudo do processo de aprendizagem de crianças (pedagogia é derivada do grego: "paid" significando criança e "agogus" significando líder de).Knowles propõe, portanto, a substituição da Pedagogia pela ANDRAGOGIA.Antes de encerrar este artigo, quero deixar perguntas para respondermos a nós mesmos: Como fomos educados quando crianças? Como fomos ou estamos nos formando como adultos? Quais são os reflexos da nossa formação, sobre àqueles que estão sob a nossa tutela?
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