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Cultura da mídia, política e ideologia: de Reagan a Rambo
(Douglas Kellner)

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No contexto dos Estudos Culturais, tenta-se encontrar formas de resistência à manipulação da mídia. Entretanto, esses estudos ainda são parcos nesse campo. O mais comum é a já familiar e quase invencível maneira com que a produção tecnomidiática faz sua infiltração e exerce sua atração por meio de artifícios de subliminaridade em questões de propaganda ideológica. É por esse motivo que Douglas Kellner, em “Cultura da mídia, política e ideologia: de Reagan a Rambo” (in: A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. p. 75-122) enfatiza o objetivo de contribuir, no âmbito dos estudos culturais, para pedagogicamente se criticar a mídia, estimulando o público a utilizar seu poder de discernimento em relação às mensagens, aos valores às ideologias que subjazem nos textos culturais midiáticos. Ou seja, analisar politicamente produtos específicos do cinema, da TV e da indústria musical é cada vez mais fundamental, vez que sua energia de comunicação acaba por estabelecer padronizações e homogeneizações de práticas sociais costumeiras. Nesse capítulo específico de sua obra, Kellner propõe, portanto, enfatizar esse tipo de estudo crítico da mídia. Como objetos principais de análise, esse autor aborda duas produções fílmicas emblemáticas do ethos militarista e remasculinizador da década de 80 nos Estados Unidos: a sequência de filmes Rambo (1982) e Top gun (1986). Esses filmes de ação e aventura deixaram a mensagem enfática de que o “Presidente Hollywood” (Ronald Reagan) e grande parte dos americanos da época assimilaram uma perspectiva maniqueísta de mundo através dos produções fílmicas de Hollywood: o inimigo é essencialmente malvado, pervertido, horrendo e violento, enquanto a águia americana representa o mocinho bom, mas que tem de fazer uso da violência para exatamente exterminar o Outro ameaçador. Basta lembrar a invasão de Granada, o financiamento da guerra na Nicarágua, o bombardeio da Líbia e outras guerras e invasões menores, na era Reagan, e a Guerra do Golfo e a continuidade da postura anterior, na era Bush (pai), para se ter a dimensão de como o cinema funcionou como propaganda ideológica para justificar e naturalizar o ímpeto bélico e autoritário dos Estados Unidos.A questão da ideologia, especialmente em sua perspectiva ampliada para incluir, além de classe, questões de raça/etnia, sexo e sexualidade, é uma postura marcante da abordagem feita por Kellner, que critica os que apregoam abandonar o conceito de ideologia em nome de noções de discurso e de linguagem. Para ele, essas abordagens devem se somar ao conceito de ideologia, pois o fato de a cultura da mídia e os discursos políticos estabelecerem um imaginário hegemônico de certos grupos e projetos justifica a manutenção de uma perspectiva ideológica de análise de produtos culturais midiáticos. Consequentemente, um estudo cultural crítico e multiculturalista tem de por em crise as abstrações, as reificações e a ideologia veiculadas por produções midiáticas. É assim que apresenta essa sequencia de filmes como legitimadora de ações e discursos militaristas e imperialistas por parte dos Estados Unidos em várias regiões do planeta. Esse filme também tenta naturalizar a masculinização da cultura e reforçar a ideia da força do guerreiro que merece como prêmio, além dos títulos de herói, a mulher como objeto de prazer. Nessa mesma linha de filmes de “retorno ao Vietnam”, ou seja, de superação do vexame e da frustração da derrota na guerra do Vietnam, Kellner coloca outros filmes, tais como “A outra face da violência” (Rolling thunder) e “Raposa de fogo” (Firefox), em que parece que os americanos não aprendem que há mais variantes nos embates políticos e sociais do que o “bem” e o “mal” maniqueisticamente. Após detalhadamente apresentar os desdobramentos do “efeito Rambo” na indústria cultural e no comportamento da sociedade nos EUA e em vários países do mundo, Kellner apresenta o filme “Ases indomáveis” (Top gun; 1986) como mais um panfleto da política de Ronald Reagan, ao apresentar a ascendência de uma política de governo triunfante e uma atitude social em que se louva exclusivamente o levar vantagem em tudo, o pertencer à elite e o ser o melhor e o vencedor em todas as esferas da vida. Esse filme é como uma antecipação imagética da guerra tecnológica que viria a ser operada no Iraque, no governo de Bush (pai). E hoje sabemos quais os desdobramentos dessa campanha de inversão do inimigo soviético e comunista para o inimigo árabe, ambos em geral sem face e sem nome nessas representações cinematográficas, como se a indicar que o Outro é tão mal que não se deve nem identificá-los. São, portanto, inimigos construídos e coisificados ideologicamente.Em suma, a série Rambo e o filme Top gun são exemplares do cinema hollywoodiano que, assim como o presidente também hollywoodiano (Reagan), não são diversão inocente, mas armas letais a favor dos grupos socioeconômicos dominantes. Trata-se, assim, de uma abordagem fundamental na área dos estudos de cultura, vez que Douglas Kellner lança a proposta desafiadora de se realizar leituras politicamente direcionadas da produção cultural contemporânea, ao estudar de que maneira esses produtos da cultura midiática realizam a transcodificação de lutas sociais em suas, imagens, narrativas e espetáculos.



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