Cidade febril
(Sidney Chalhoud)
Na primeira parte, relata-se o processo de derrubada do "Cabeça de Porco" (cortiço do centro do Rio de Janeiro). As motivações para a derrubada e o regozijo da sociedade, visível pelos jornais da época. Com a abolição da escravidão, a relação entre libertos e patrões passou a ser um problema. As teorias racistas ganham força no período e a existência de negros "vivendo por si" faz que se buscasse novas formas de controle. Como os cortiços eram justamente os pontos onde os cativos e ex-cativos encontravam apoio, controlá-los passa a ser muito importante. A ideologia da higiene faz com que a “classe pobre” passe de foco de imoralidade e vícios para ser foco de doenças. Os cortiços surgem por causa da ampliação dos alugueis e da imigração e a medida que se amplia a quantidade os pobres, a classe política busca resposta para a ocupação do centro, empurrando os pobres para fora desta zona. Na República, grupos “higienistas” passam a ter um grande poder dentro da administração pública, mesmo encontrando questionamentos da população e de burocratas alheios ao "modelo cientifico”. A ampliação do poder dos higienistas ocorre no momento que muitos empresários se interessam pela "coisa publica" e esses ideais acabam justificando ações de expansão urbana, que tiveram como motor real a especulação imobiliária e expansão das ações de empresários da área de transportes (muitas vezes ligados ao serviço publico ou em cargos eletivos). Por fim, neste trecho o autor aponta que, a despeito da crença desenvolvida contra os pobres, podemos ver alguma função positiva nas ações higienistas. Contudo, essa politica era para toda a população, mas sim para melhorar a cidade para o imigrante europeu.
Na segunda parte mostra a crença que o Brasil era um país isento de epidemias como cólera ou febre amarela até 1850. Com a ampliação na quantidade de casos, políticos, empresários e cientistas acabam associando como solução para o problema questões raciais, econômicas e cientificas. Com o surto de 1850, autoridades passaram a procurar os culpados. Inicialmente,foi fruto da ira divina. Essa ideia perde força a medida que os "philosophos" expõem seus questionamentos: transmissão de pessoa para pessoa ou se as condições do meio influenciavam essa transmissão. Os infeccionistas levam a melhor, impondo quarentena para navios, o que gerou protestos de diplomatas ingleses. Já que não havia um consenso sobre a forma de transmissão, o Império não podia desenvolver mudanças no cenário urbano. Buscava-se localizar de onde teria vindo o "veneno" causador do mal, as vezes associado ao tráfico negreiro. O que servia de consolo na epidemia de 1850 era justamente o seu maior problema em 1870 - sua incidência sobre os imigrantes. O autor busca mostrar como os cientistas justificavam incidência de febres. Cientistas europeus e americanos postulavam como motivo a inferioridade dos povos das áreas quentes. No Brasil, apontava-se justamente os problemas com a higiene urbana. Essa abordagem garantia que os médicos buscassem formas de aclimatar os estrangeiros, desenvolvendo práticas e recomendações diversas, como alimentação e vestimentas. Com o retorno da epidemia em 1870, os médicos buscaram novamente entender de onde havia surgido o veneno, mas com menos proselitismo. Assim, começaram os apontamentos relativos aos miasmas, os cortiços e as "classes pobres". e correção disso. Isso se traduzia em uma "limpeza", tanto urbana quanto moral e racial, que se faz perceber no discurso médico, mesmo sem um vocabulário racializado.
No último trecho, o autor tenta apontar o que já foi escrito sobre as causas da revolta da vacina e que o motivo "moral" ou "vacina" foi menos importante e que o serviço de vacinação foi pouquíssimo estudado. A vacina não tinha sido bem recebida no país. O receio relativo a vacinação provavelmente surgiu a partir de escritos portugueses, além do reaparecimento da varíola nos vacinados, inexperiência, "apadrinhamento" ou a não-remuneração dos vacinadores, o "enfraquecimento" da linfa vacinica e as dificuldades do retorno para a imunização são apontadas como origens da não-aceitação da vacina. Observando relatórios de vacinadores, eles apontam também a "ignorancia" do povo como problema, pois muitos sacerdotes do culto a Omulu (onde residia a idéia de controle dual - o deus que mata é o que cuida), encarregados de traduzir o que o deus dizia, variolizavam (ritualmente ou não) os crentes, o que é visto como um obstaculo a vacinação. Entretanto, a varíola acaba sendo vista como ajuda para "purificar" a população.
Com o Barão de Lavradio, houve uma grande mudança no modo de vacinação: a visitação domiciliar. O desenvolvimento da vacina no país e a "municipalização" de parte da vacinação, aumentou a oferta de vacinas além do enrijecimento contra os vacinophobos, principalmente nos cortiços. De uma crônica de Machado de Assis, observamos a mudança socio-politica que realmente transformou o comportamento popular: a perseguição aos curandeiros. A dificuldade de apontar a forma de expansão de uma doença juntamente com o desmantelo das velhas formas de controle ampliou a aceitação das doutrinas de infecção, o que possibilitou ações sobre a população pobre e suas formas particulares de ver as doenças e as curas. No texto de Machado de Assis, o autor busca mostrar a "duvida" surgida durante o estudo sobre a tolerância a cultura popular no período imperial e a criação (pelos republicanos) da oposição relativa a administração competente por ser cientifica e apolitica (paradigma republicano) ao passo que a administração incompetente (imperial) seria muito tolerante com as "superstições populares"
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