Glória - Glória...
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Glória - Glória...
Não, não estou fazendo nenhuma louvação, não! - Ao contrário, estou pensando no meu amor, mãe dos meus queridos filhos, a Glória que já foi a glória dos meus sonhos.
Estou marujo, preocupado no vaticínio da tempestade que se aproxima, como pena pairando sobre a brisa da calmaria!
Hoje é feriado nacional, porém, para mim todos os dias são feriados, posto que, vivo quotidianamente neste paraíso parnasiano, já que me faço poeta e, tento sobreviver de palavras grafadas.
Enamorado; como sempre fui pela vida, a mim me foi reservado esta enorme nostalgia.
A minha Glória, a glória da minha vida, decidiu nos deixar, pois, a sua glória não combina com a glória da poesia.
Nestes dias; tenho apenas afixado-me à rede, aquela que já tivera sido alcova de um sonhador poeta, como se estivesse preso à uma teia de qualquer aracnídeo, a calmaria me assusta e, me faz versejar.
Carpintejei uma vida, para construir o meu paraíso, que na verdade me faz sentir inibido pela minha pronúncia arrogante e unilateral, talvez egoísta, por não dizer: nosso paraíso.
Ora, ora, ninguém de bom-senso, abandona um paraíso!
Minha Glória abandonou-o, quiçá, por carregar a pecha da: glória.
Coloquei junto à minha rede, que não tem a devida força para se balouçar, reminiscências de um passado de vinte e cinco anos de junção amorável.
Estou folheando, na minha redundância, alfarrábios de antanho, velhos documentos que se insurgiram contra a fogueira de incinerá-los.
Mas, chegou o momento.
Velhas contas telefônicas que, foram prenúncios de amoráveis encontros com minha Glória.
Jovens, lépidos, saudáveis, nos encontrávamos para os divertidos filmes e, peças teatrais, muitos jantares à luz de vela. simbologia a dois seres jungidos pela paixão.
Minha amada, apesar do meu pesar, tinha muitas virtudes, era extremamente discreta, jamais reivindicou suas cartas, comigo guardadas como velhas recordações, nimbadas pelos eflúvios de nossas paixões.
Acabo de enxovalhar uma missiva, com lágrimas incontinentes dos meus olhos torturados, pingados sobre a nankin azul, e envergonhados pela presença das minhas cãs.
- Glória, Glória por quê?
A calmaria me engana neste momento, posto que, o meu irrequieto coração, ora aos trancos, ora estático, renegando-se às batidas que lhe dão vida, fervilhando de angústia, pois, perdi toda minha Glória, nada mais me restou.
Não querendo ser amargo, tenho de agradecer a Deus em sua bondade, por ter preservado a mim, meus amados filhos, por quem continuarei lutando no afã de fazê-los felizes.
Vivemos vinte e cinco anos harmoniosamente, criamos três maravilhosos filhos, dentro da normalidade de seres comuns, não somos abastados, porém, suficientemente para uma vida muito confortável.
Para maior conforto, viemos morar no paraíso, numa gleba de terras férteis, com lagos, casa de caseiro, piscina, alguns automóveis em nossa garagem e, muita poesia.
Nossos filhos, também moram no mesmo terreno, em suas casas de esmerado conforto e, cuidam de nossos queridos netos.
Minha cabeça de homem ludibriado, está fervilhando pelo turbilhão da traição.
Sempre fui pacífico, jamais dado à violência, até confesso que fui pudico sobremaneira, sempre estive longe da espurcícia libidinosa.
Minha Glória causou-me espécie.
A minha personalidade, formada dentro dos padrões religiosos de uma família comum, me faz recalcitrar contra tais aguilhões, não há conformação na minha pessoa em relação ao ultraje praticado pela minha amada Glória.
Glória se foi, recentemente, mas, se foi.
Conhecendo-a, sei que não mais voltará!
Você; meu amigo confidente sabe o que é conviver com uma santa, que doou-se completamente aos filhos e, porque não dizer: ao esposo.
Você dirá:
- Oh. Poeta, lúdico, homérico você não se apercebe de quantas mulheres vivem perto de você, mulheres bonitas, honestas, preparadas, cheias de atributos?
E por que acha tanta santidade em sua ex-esposa?
- Sim! Até concordo com você, meu amigo, que com a santa paciência coopera comigo, nas minhas lamentações, mas, minha realidade é antiquada, antiga, nos moldes dos meus pais e, não dentro da modernidade atual.
Somente não posso entender por que, minha amada, pôde fazer tal maldade comigo, estou deveras pasmo.
Sua autenticidade é de tamanha monta que, no mês passado, fui surpreendido pela minha Glória, convocando-me para as devidas considerações:
- Amado poeta (que sou eu) é claro!
- Sinto no imo de minh'alma (ainda falando como uma poetiza.) esperando não surpreendê-lo, venho encontrar-me contigo para as devidas despedidas e considerações.
Álgido pela emanante frigidez de suas palavras, as quais, de pronto não entendi.
- Minha Glória (como sempre a chamei..) não estou entendendo essa sua brincadeira.
- Bem poeta, como minha decisão é recente; dir-lhe ei:
- Serei extremamente lacônica em minhas palavras, para que se amenizem os nossos sofrimentos.
- Quando viajei para o sul do país, nas minhas últimas férias, conheci Laércio o motorista do ônibus, com o qual; viajávamos. Evitarei peremptoriamente em falar sobre. porém, espero que você entenda, concedendo-me a sua alforria, para me juntar a ele.
Extático e, estático feito à uma múmia, quase apoplético, ferido em meu orgulho, as lágrimas desceram torrencialmente sobre minha barba branca. Nunca enfrentara tamanha humilhação.
Nunca houvera chorado perante um ser humano, apesar de poeta, e agora sim, sou-o por completa circunstância.
Ao menos, estou mais poeta!
Como é bom chorar, é uma necessidade intrínseca e fisiológica-mental, ou psicossomática se assim for melhor..
Novo encontro foi marcado com a família.
Passei o maior vexame, fui compelido ao choro novamente, chorei lágrimas de sangue perante o meu maior tesouro; a minha dileta família.
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