Feminismo e Literatura no Brasil
(Constância Lima Duarte)
Literatura feminista no Brasil.
A autora principia mencionando sua percepção da resistência ao termo feminismo pelos formadores de opinião ( fossem formadoras de opinião e o resultado seria outro ), embora reconheça os avanços alcançados pela parcela mulher da sociedade brasileira.
A estigmatização do termo pode ser vista como um processo natural de ação e reação ( igual intensidade e sentido contrário ). Rememoremos Maquiavel, segundo o qual, a implantação de uma nova ordem encontra fortes opositores entre os que se beneficiam da ordem existente e apenas moderados defensores dentre os que se beneficiarão da nova ordem.
Ora, é obvio que, se a mulher quer melhoria e expansão de direitos, quem "hoje" tem esses direitos vai lutar pela sua manutenção. E que forma de expressão mais ardilosa poderia o homem usar do que a valorização da mulher? Mulher feminina, em casa.
A batalha feminista é similar a outras lutas do pós-iluminismo em que se acredita que, apesar de tudo, é possível um relacionamento justo entre todos.
A comparação com as ondas me parece inoportuna, não importa se são conceitos consagrados. Uma onda vai e volta, porém não avança sobre a terra, em protesto, exigindo a ampliação de seus domínios.
O primeiro degrau da escalada feminista brasileira se deu, em 1827, no campo educacional, formando mulheres que ousaram trocar as prendas pela pena, tornando-se assim, o embrião do feminismo tupiniquim.
Uma das precursoras, Nisia Floresta, com base em escritos de Mary Wolstonecraft entre outras, prega a educação como a alavanca para a almejada realocação do papel feminino na sociedade.
Já a função feminina na procriação e na amamentação é algo que a ciência ainda não resolveu em sua totalidade, mas acabará por fazê-lo. Então mulheres, tenham calma, pois o inevitável acontece. Nada é mais natural do que a conquista de direitos inibir velhos deveres.
A adaptação dos textos europeus, feita por Nisia, não se limitou à mera tradução, mas fez jus ao termo, como no último capítulo de Direitos da Mulher, ocasião em que, ao contrário de suas predecessoras do além mar, abandona a proposição de luta e propõe uma trégua, com a bandeira feminista, porém, bem fincada alguns degraus acima.
A maioria das escritoras da época, no entanto, não alcançou a grande imprensa, limitando-se a espaços cedidos em publicações masculinas dirigidas às mulheres. Há que se colocar em xeque esta oferta. Não seria, mais do que isso, uma procura?
As idéias ( os ideias ) de Nisia ( do velho mundo ou das mulheres enfim ) são reforçadas pela gaúcha Ana Brandão, através de um personagem ficcional que busca a efetiva participação feminina nos destinos da coletividade.
As primeiras edições dirigidas por e para as mulheres foram discriminadas por serem um produto de consumo estritamente feminino, num contexto de domínio social/intelectual e moral masculino, porém o que antes era um embrião, agora germinava.
A ascensão do movimento é retomada em meados de 1870 com o nascimento de inúmeras publicações feminino-feministas. Francisca Senhorinha com o seu O Sexo Feminino que mais tarde se tornaria, em alusão à República, O Quinze de Novembro do Sexo Feminino, teve, entre seus leitores D.Pedro ll e a princesa Isabel.
A busca do saber, a ciência como consciência e a mudança como conseqüência; com este espírito publicações como O Sexo Feminino, O Domingo e O Carimbo de Porto Alegre; mesclaram o entretenimento feminino com a doutrina feminista, informando sobre as conquistas em outros países como paradigma para a mulher brasileira.
" Às mulheres cabem apenas três profissões: dona-de-casa, prostituta e professora de escola primária " ( podemos atualizar para ensino fundamental ).
Popular, autor desconhecido.
Obviamente que, descontentes com as três opções acima, as mulheres do sec. XX, agora de uma forma mais contundente, afinal de contas o que antes germinava agora já nascia, vão à luta pelo direito ao voto, à educação superior e a ampliação do mercado de trabalho.
A este tempo surgiram entidades que se agruparam formando associações para fortalecer o alcance desses objetivos.
Em 1927, O Rio Grande do Norte concedeu o direito do voto às mulheres e teve, em 1927, a primeira mulher prefeita da América Latina.
Em 1932 as mulheres quase votam, mas devido à suspensão do pleito o voto feminino não se concretizou.
A literatura feminista deste tempo foi premiada, ousada em suas críticas ao sistema, informativa, e, é claro, teve uma postura feminista nas ações de seus personagens.
Nos anos 70 a questão feminina floresceu com mais intensidade e a busca não é mais pela possibilidade de ocupar um posto, mas de, uma vez nesse, ter as condições de trabalho melhoradas.
Particularidades como a ditadura e a conseqüente censura ofuscaram um pouco a liberalidade sexual e civil proposta e implementada pelo feminismo em outros países. Assim como a da discriminação racial a bandeira feminista teve de ser enrolada, ou pelo menos, tornar-se secundária face à necessidades mais prementes.
Hoje, a discussão do tema feminismo está represada e na verdade penso que, quando as minorias estiverem espraiadas pelo tecido social, poderemos começar uma discussão mais objetiva e global, que não empunhe a sua bandeira, mas a nossa, cidadãos brasileiros de um modo geral.
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