Cortes
(Almeida Faria)
Escreva o seu resumo aqui. Cortes (Nova Fronteira; 113), livro publicado em 1978, possui aspectos inovadores. Um deles é o fato de Almeida Faria mostrar o cotidiano da vida de uma família portuguesa de pequenos proprietários de terra, dividida entre Alentejo e Lisboa, em 50 capítulos com cortes a exemplo do que acontece nas novelas. Outro aspecto relevante é forma como são construídas as personagens: um pensamento liga-se a um sonho, uma frase das personagens a uma frase da voz narrativa. Sendo assim, é possível construir um microcosmos familiar, o qual nos dá uma noção histórica e social de uma comunidade. O Primo Basílo, 1878, também da ao leitor uma visão de como era o quadro familiar da época, porém, a partir da exposição de episódios doméstico, deixando claras carecterísticas pessoais dos personagens que têm o emocional frágil.Cortes faz parte de uma Tetralogia Lusitana, a mesma reune um conjunto de quatro volumes, vindos a lume entre os anos de 1965 e 1983. Na obra, faz-se eco de um tempo histórico, interposto pelos acontecimentos do 25 de Abril de 1974, em Portugal, lugar simbólico com que o título genérico dos quatro romances que compõem a Tetralogia estabelece uma relação íntima, metafórica e de claro indício de que, entre outras, uma questão identidade nacional se postula. A Paixão (1965), Cortes (1978), Lusitânia (1980) e Cavaleiro Andante (1983) enunciam o relato da ficcionalização de uma era em curso que, de modo gradativo, se ampliará a outras temporalidades através de um discurso fragmentário, dominado pela intencionalidade de múltiplos referentes culturais, acabando sempre, contudo, por retomar ou evocar os caminhos de uma memória inicial. Toda a trama é delimitada por um núcleo doméstico, uma casa fechada sobre si própria numa vila rural, habitada por grandes proprietários alentejanos. A escolhida reflete uma tradição que se esvai rapidamente, dominada que é por claros sinais de degenerescência de um determinado ciclo de poder. Ao fim e ao cabo, esse ciclo não é apenas rural e, ao longo da Tetralogia, a ideia de ruptura e de corte expandir-se-á a nível de todo o país, nomeadamente, na crise aberta pelo legado colonial, nas várias lucubrações geracionais, na hipertrofia do passado, enfim, no sonho que sucede à repetição ritual do quotidiano irremissível. Este desafio que a Tetralogia tenta pôr a nu assume sobretudo a natureza de uma desagregação, ou do percurso de um itinerário limiar onde, ao mesmo tempo que a grande casa inicial definha ou se esvai, o espaço-tempo romancesco se amplia. Deste modo, os personagens divergem, cruzam países, continentes, alteridades quase irredutíveis, de tal modo que, no palco final da Tetralogia, pouco mais emergirá que o perfil gasto de Lusitânia, uma terra inteiramente à deriva e a braços com o secreto imobilismo de séculos. No entanto, a redenção esperada caberá por inteiro à hierofania do estético, à textualização das diferentes solidões, ao testemunho epistolográfico, ou ainda ao espaço de negação subitamente instaurado nas subtis fissuras do horizonte ficcional de Almeida Faria.Este decantar nacional e simbólico, perpassado pela tentativa de reinventar a póetica de uma qualquer pátria ideal, não se sujeita, porém, à linearidade histórica. Desde o início de Tetralogia Lusitana que variados modelos de cronotopo dominam o pano de fundo da narratividade, de que são exemplo o calendário litúrgico cristão e o desígnio mítico. Os dois primeiros volumes de Tetralogia Lusitana, A Paixão e Cortes, passam-se, respectivamente, numa Sexta-feira e num Sábado de Páscoa, projectando na existência estrita de vinte e quatro horas mundanas a alegoria silenciosa de um tempo perpétuo e sempre original. Por fim, Cortes é um livro que merece atenção não pelo uso que o autor faz da temática, mas sim pelo uso de elementos estruturais e linguísticos novos. Faria apreende a realidade centrado numa visão do homem, posto diante do eterno problema da luta de classes. Cortes desloca a evoluçãoda ficção tradicional de começo, meio e fim, em torno de uma personagem ou de uma situação, para um outro esquema , já que a captura da realidade em quaisquer momentos, traduzindo-se na quebra de frases, na repetição das mesmas cenas e no início de novas situações praticamente pela metade, conduz a uma nova espécie de compreensão do mundo, orientada pela observação e a ligação de detalhes esparsos, a refletir o caótico universo humano.
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