Nos ESCANINHOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA:HUMORES E TENTÁCULOS IDEOLÓGICOS
(NELSON PASCARELLI FILHO)
“O sistema de ensino é um dos mecanismos pelos quais as estruturas sociais são perpetuadas” (Bourdieu)INo filme “Entre os Muros da Escola” existe a v possibilidade de uma leitura ideológica: ensina-se aos alunos imigrantes como ser francês - a perpetuação de um ideal “elevado”, eurocêntrico, consagrado como ícone da mais excelsa herança iluminista!Em cada gesto de ordem, entonação e afirmação, olhares de reprovação, atos falhos e perplexidades do professor estão todos os escaninhos do currículo oculto a manifestar seus tentáculos confirmando que não existe prática pedagógica neutra. No filme, o docente está diante de uma classe multicultural, estigmatizada como “lixo social” que incomoda e não encontra lugar na sociedade francesa e afronta a mais imóvel tradição e ainda desperta a face mais violenta da xenofobia.IINão somente lá em terras napoleônicas, mas cá também em solo de Macunaíma, que agora tem salas de aula repletas de alunos bolivianos, fica a pertinente pergunta: - quanto o currículo oculto se concatena com a aculturação? Os alunos bolivianos são vítimas de bullying, e cotidianamente precisa lembrar aos alunos brasileiros que todos têm antepassados que foram imigrantes e sofreram em maior ou menor intensidade o que hoje os andinos estão sofrendo por mãos crueis regidas por mentes imbecis.De forma sutil ou declarada, entre as equações matemáticas, lições de anatomia ou regras gramaticais, ensinam-se aos imigrantes andinos como ser brasileiro e esse ensinar tem um sincopado tom de malandragem carnavalesca com pitadas do tal “gosto de levar vantagem”.IIICircundando o currículo real, adentrando em seus escaninhos, é que os alunos interiorizam atitudes acríticas e sem reflexão para viver segundo os ditames e matrizes sociais: não se trata de adaptação, mas da reprodução dos humores do modelo econômico que rege as relações de poder. Obediência cega e trabalho alienado são alguns frutos nefastos do currículo oculto contrapondo-se à aquisição com criticidade do conhecimento, condição sine qua non para formação do sujeito ético.Para os alunos pobres ensina-se o conhecimento sobre a égide da subordinação; para os alunos ricos, o conhecimento é ensinado através da perspectiva epistemológica, de seus fundamentos, com criticidade, passando aí um tom de retórica necessária a quem historicamente está destinado a mandar. IV É impossível ter uma prática pedagógica neutra, pois optar pela neutralidade já é tomar uma posição e consagrar um mito que nunca deixará de ser mito, mas deseja-se, em prol da re-humanização e da justiça social, que num breve momento de reflexão, o educador questione seu habitus profissional, pois ele é regido por uma rotina estressante e pragmática que efetiva a cada geração, através do currículo oculto, as mazelas de um modelo econômico que rouba a dignidade do trabalhador e joga milhares de pessoas abaixo da linha da miséria.Para Saber MaisLivrosCurrículo, Cultura e Sociedade. Moreira & Silva (orgs). Cortez. 1994.O Que Produz e o Que Reproduz em Educação. Silva. Artmed. 1992.FilmesEdukators - Os Educadores. Hans Weingartner. Alemanha. 2004.A Missão. Roland Joffé. Inglaterra. 1986.Saber mais: www.pascarellisciensead.com.br
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