Deus não é africano? A África e o neocolonialismo
(José Luís Fiori)
Talvez porque Deus já tenha a nacionalidade brasileira, José Luís Fiori, colaborador do Caderno Brasil do Le Monde Diplomatique (24.04.2008), oferece um título tão sugestivo: "Provavelmente, Deus não é africano". Mas a questão de que trata seu artigo é mais séria do que essa identidade divina. De fato, a economia do continente africano cresce 5,5% ao ano, o dobro da taxa do início dos anos 90. Porém, informa o autor, em tom de denúncia, há fatos graves por trás desses números: a África está prestes a ser, pela terceira vez na história, o campo de uma imensa corrida imperialista, o território em que as potências mundiais passam a disputar riquezas e bases militares.Enquanto se ocupam em refletir e agir acerca de conflitos sangrentos e graves crises regionais, os países africanos ainda reforçam a imagem de “estados falidos”, “guerras civis” e “genocídios tribais”, com participação de mísero 1% no PIB mundial, 2% dos negócios globais e menos de 2% do investimento direto estrangeiro dos últimos anos. Mas a África não é e nunca foi assim simples e homogênea. E o recente crescimento das economias da Índia e da China, principalmente, aliado aos ventos de crescimento global recente (sem contar a crise financeira de 2008/2009, ocorrida após a publicação desse artigo), tem dado a países como Angola, África do Sul, Sudão e Mauritânia, expressivas oportunidades de desenvolvimento. Entretanto, enquanto chineses e indianos fazem seus aportes econômicos, objetivando angariar matérias-primas e chances de investimento, os EUA e a União Européia não cogitam a possibilidade de deixar suas posições econômicas e militares na África. Há um evidente aumento da presença militar americana e de outras potências européias. Segundo Fiori, é um movimento similar ao que aconteceu no primeiro colonialismo europeu, com a conquista da cidade de Ceuta, no norte da África, em 1415, com consequente extensão pela costa africana, que levou a população negra do continente a se tornar a principal mercadoria da economia mundial, com o tráfico de escravos nos primórdios da globalização capitalista. Em seguida, veio a “era dos impérios”, no final do século 19, quando as potências da Europa conquistaram e submeteram todo o continente africano, exceto a Etiópia. A terceira fase é agora, quando há claros indícios de que a África será, mais uma vez, dominada por potências de outros continentes. É o que não se espera ou, como o autor finaliza seu artigo: “a menos que exista um outro Deus, que seja africano”.
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