Pós-colonialidade: projeto incompleto ou irrelevante?
(Mary Louise Pratt)
Mary Louise Pratt, de um modo geral, dialoga com as posições que cada vez mais desafiam as fronteiras, antes tidas como nítidas, ou mesmo intransponíveis, entre a literatura e os discursos que a cercam, como a historiografia, a biografia e a autobiografia. Ela tenta verificar o conceito de pós-colonialismo no panorama ocidental, discutindo a descolonização do conhecimento, cujo processo inclui necessariamente a compreensão dos modos pelos quais o Ocidente tem construído seu próprio conhecimento de mundo. Considera que a cultura ocidental se constrói a partir de determinações econômicas e políticas, que formam um centro gerador, o qual, ao mesmo tempo em que submete, também assimila, não somente conhecimentos próprios como a própria capacidade de produção de conhecimento de outros povos. Em “Pós-colonialidade: projeto incompleto ou irrelevante?” [In: VÉSCIO, Luiz E.; SANTOS, Pedro B. (Orgs.). Literatura e História: perspectivas e convergências. Bauru: EDUSC, 1999. p. 17-54] Mary Louise Pratt, que tem se notabilizado por importantes pesquisas sobre relatos de viagem, enfrenta o complexo desafio de apreender a dinâmica imperial, propondo a descolonização do conceito de modernidade para construir, a partir daí, uma base conceitual e histórica que permita emancipar os presentes estudos a respeito da globalização. Na sua visão, a partir de matérias díspares como a guerrilha colombiana e os projetos dos estúdios Disney, é necessário perscrutar momentos de emancipação, considerando aberturas e ocultamentos que tais momentos podem significar e ressignificar. Conclui destacando a necessidade da construção de novos olhares com o fito de se pensar uma pós-colonialidade no correlato de uma pós-modernidade. E, como a própria Pratt aponta: “Os leitores identificarão em meu título uma alusão ao famoso ensaio de Habermas intitulado ‘Modernidade, um projeto incompleto?’ O presente ensaio também trata da questão da modernidade, e especificamente do retumbante fracasso dos pensadores metropolitanos em articular sua relação com a colonialidade”.
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