As mulheres só querem ser salvas: Sex and the City e o pós-feminismo
(Márcia Rejane Messa)
Como justificativa inicial para se trabalhar com o seriado Sex and the city (Direção: Darren Star e Michael Patrick King. HBO, 1998-2004) em sua dissertação, a mestre em comunicação Márcia Rejane Messa aponta exatamente a pouca atenção que a academia dedica à ficção seriada, em particular ao gênero sitcom. Portanto, em “As mulheres só querem ser salvas: Sex and the City e o pós-feminismo” (Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. e-compos. Abril de 2007 - 2/19), em linhas gerais, Messa analisa a questão da “solteirice” nesse seriado norte-americana a partir do chamado “circuito de cultura”, de Richard Johnson. Essa ferramenta de abordagem crítica no campo dos estudos culturais contempla os produtos culturais em seu circuito completo, que compreende a produção (suas condições e fundamentos), o texto (a mensagem textual e/ou discursiva veiculada) e a recepção (efeitos e reflexões nos leitores/espectadores). Esses três componentes são analisados no produto cultural Sex and the city como forma de contribuir para uma compreensão mais abrangente da condição da mulher no tecido social contemporâneo, com especial ênfase ao papel exercido pela cultura da mídia nesse contexto.Assim, após a análise dos três pólos, incluindo a realização de dezessete entrevistas, quando da análise do pólo da recepção do seriado por mulheres solteiras no Brasil, Messa faz pertinentes questionamentos em conexão com o que se tem chamado de pós-feminismo. De fato, a autora entende que as solteiras do pós-feminismo têm uma rotina agitada, uma vida afetiva relativamente aberta, uma carreira profissional a seguir, produtos culturais inspiradores como Sex and the city e outras características exatamente parecidas com as personagens mulheres desse seriado. Entretanto, ainda se mostram inseguras e pressionadas sobre a condição de serem solteiras na contemporaneidade, como também o fazem as personagens do seriado. O questionamento sobre as ações dessas mulheres, consideradas por alguns como pós-feministas, se baseia na premissa de que essas ações são resultado de uma vontade consciente, como se a exploração da mulher tivesse acabado na sociedade. Como conseqüência, para o pós-feminismo, sua condição de existência é a afirmação de que o feminismo está fora de moda. Ao apresentar mulheres que exibem seus corpos com orgulho, fazem sexo descompromissado, pagam suas contas, têm o livre-arbítrio sobre as escolhas em relação ao futuro e decidem se casam ou se moram junto, por exemplo, produções culturais como Sex and the city, segundo Messa, dão a sugestão de que a igualdade entre homens e mulheres está dada, sendo desnecessário continuar a luta. Essa postura, entretanto, em que pese serem as mulheres figuradas nesse seriado emancipadas, não elimina o fato de que essas mulheres sofrem por sua condição de solteiras, especialmente pela cobrança da sociedade, para que assumam um padrão mais adequado e normatizado, isto é, para que sejam parte do mundo dos casais felizes. Esse artigo de Messa é, desse modo, um alerta e um lembrete de que não se deve baixar a guarda tão facilmente. Nesse contexto em que o feminismo só é citado para ser execrado, as mulheres, no âmbito da cultura midiática, sentem-se totalmente empoderadas, mas à espera da salvação. Portanto, uma ilusão pós-feminista que produtos culturais como Sex and the city parecem repetir e consolidar.
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