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Um ataque a favor dos direitos das mulheres
(Christopher Hitchens)

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Um ataque a favor dos direitos das mulheres

Christopher Hitchens
é escritor, colunista da revista Vanity Fair, autor e colaborador regular do New York Times e The New York Review of Books. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA

Os legisladores franceses que querem repudiar o uso do véu ou da burca são muitas vezes acusados de estar tentando impor uma “proibição”. Pelo contrário, eles estão tentando suspender uma proibição: a proibição do direito das mulheres de escolher sua própria vestimenta, a do direito das mulheres de discordar da autoridade masculina e clerical, a do direito de todos os cidadãos a olhar na cara uns dos outros.

A lei proposta segue as melhores tradições da república francesa, que declara que todos os cidadãos são iguais perante a lei e – não menos importante – iguais diante uns dos outros.

Na porta de minha agência bancária em Washington, D.C., um aviso impresso me pede educadamente para remover qualquer tipo de cobertura da face antes de entrar no recinto. O motivo: uma pessoa que irrompa por aquelas portas com qualquer tipo de máscara incorreria numa apropriada presunção de culpa. Isso deveria servir para o resto da sociedade. Eu me recusaria a tratar de qualquer assunto com uma enfermeira, um médico ou professor que escondesse sua cara. Como ficaríamos sem frases como “O que você tem a esconder?”.

Ah, mas a exigência específica de considerar o véu e a burca como exceção se aplica apenas às mulheres. E se aplica apenas a uma prática religiosa. Isso diz imediatamente o que é preciso saber: o que está sendo pedido é que a sociedade abandone uma tradição imemorial de igualdade e abertura a fim de favorecer uma fé, uma fé que tem um histórico bastante questionável no que diz respeito às mulheres.

Deixe-me fazer uma pergunta simples aos pseudoesquerdistas que assumem uma linha branda sobre o véu e a burca. E a Ku Klux Klan? Conhecida por seu estilo encapuzado e sua história reacionária, essa gangue se dedica, e sempre se dedicou, a defender a pureza protestante e anglo-saxônica. Não nego o direito da KKK de ter essa visão com base em uma crença, o que é protegido pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Eu posso chegar até a dizer que, em uma manifestação protegida pela polícia, eles poderiam legalmente esconder sua cara detestável. Mas não vou deixar um homem ou uma mulher encapuzados dar aula para meus filhos, ou dirigir meu ônibus, e nunca vai existir uma lei que diga que eu tenho de fazer isso.
Proibir a burca é resgatar o direito da mulher de escolher
sua vestimenta e discordar da autoridade masculina

Não temos nenhuma garantia de que as mulheres muçulmanas vestem a burca ou o véu por uma questão de escolha própria. Uma enorme quantidade de evidências aponta para o contrário. Mães, esposas e filhas são ameaçadas de ter a cara queimada por ácido, ou de assassinato pela honra, ou de apanhar brutalmente se não adotarem a vestimenta externa humilhante que é determinada pelos homens. É por isso que, em muitas sociedades muçulmanas, como a Tunísia e a Turquia, o visual encoberto é ilegal em prédios do governo, escolas e universidades. Por que deveriam europeus e americanos adotar o padrão dos Estados muçulmanos mais primitivos e retrógrados?

A religião é a pior desculpa possível para qualquer exceção à lei comum. Os mórmons não podem ter casamentos polígamos, a circuncisão feminina é crime federal no país e, em alguns Estados, adeptos da Christian Science podem ser processados se negligenciarem seus filhos ao recusar cuidados médicos. Os americanos vão ousar repreender os franceses por simplesmente declarar que todos os cidadãos e residentes, qualquer que seja sua aliança confessional, devem ser capazes de se reconhecer uns aos outros no sentido mais claro desse termo universal?

É muito simples. Meu direito de ver sua cara é o começo, assim como é direito seu ver a minha. Logo em seguida vem o direito das mulheres de mostrar sua cara, o que supera o direito de seus parentes do sexo masculino ou de seus imãs homens decidirem de outra forma. A lei precisa estar decisivamente do lado da transparência. Os franceses estão desferindo um golpe não apenas a favor da liberdade, igualdade e fraternidade, mas também a favor do gênero feminino.



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