Quem quer adotar uma escola?
(Camila Guimarães)
Quem quer adotar uma escola?
Como a Parceiros da Educação, uma associação de grandes empresários paulistas, está transformando 80 escolas públicas em modelos eficazes de ensino e gestão
Imagine uma escola pública, localizada na periferia pobre de São Paulo, que tenha um alto índice de desempenho dos alunos. Tão alto que já tenha superado, há dois anos, a meta de aprendizado de língua portuguesa proposta pelo Ministério da Educação no ensino fundamental – para 2022. Ou que, em matemática, eles tenham melhorado suas notas em 71% em um ano – três vezes mais do que a média do Estado. Nessa mesma escola, professores são treinados por entidades particulares, especializadas em educação, para corrigir falhas específicas de formação e ajustar técnicas de sala de aula. Esses mesmos professores também trabalham em um sistema de metas individuais: se cumpridas, ganham bônus salariais no final do ano letivo. Isso tudo acontece em um ambiente seguro, limpo, com salas de aula bem cuidadas, biblioteca parruda, laboratório de informática que funciona e quadras novinhas para a prática de esportes.
Sonho? Não. A Escola Estadual Luís Gonzaga Travassos da Rosa, na Zona Sul de São Paulo, é de verdade, feita de cimento, tijolo e dedicação à causa da educação pública. Ela é o primeiro fruto da Parceiros da Educação, uma associação criada em 2004 por grandes empresários que promove e monitora parcerias entre empresas e escolas da rede pública. Sem fins lucrativos. Hoje, 80 escolas são adotadas por empresários por meio da Parceiros, beneficiando 75 mil alunos do ensino fundamental e médio da rede pública de São Paulo. “A ideia é levar para a escola nossa experiência em administração e gestão”, diz o empresário Jair Ribeiro, que adotou a Travassos há seis anos e idealizou o projeto. “Nossa missão é tornar a escola pública modelo de eficiência.”
Cofundador e presidente do Conselho da CPM Braxis, a maior empresa de serviços de tecnologia do Brasil, Ribeiro, de 49 anos, é mais do que um empresário eficiente. Tem aquela inquietude empreendedora que move os projetos sociais bem-sucedidos. Nos anos 80, trabalhou para o tradicional escritório de advocacia Pinheiro Neto. Fundou e dirigiu o banco Patrimônio e foi executivo do JP Morgan Chase, em Nova York. Também criou a Casa do Saber. Foi no final do ciclo em Nova York que ele conheceu o projeto do amigo Jayme Garfinkel, presidente do Conselho da Porto Seguro, que adotara uma escola pública na comunidade de Paraisópolis, na capital de São Paulo. Ele se encantou e percebeu, então, que era possível fazer algo para melhorar a educação brasileira. “O Ribeiro, empreendedor que é, fez o que eu não fui capaz: formatou a parceria para replicá-la em outras escolas e foi bater de porta em porta atrás dos empresários”, diz Garfinkel.
O principal argumento para convencer os empresários a assumir uma escola é o que faz a força do modelo: não se trata de assistencialismo nem de apenas pintar um muro ou fazer um depósito todo mês na conta da Associação de Pais e Mestres. É compromisso, não caridade. A Parceiros tem uma equipe pedagógica que, junto com a direção e coordenação das escolas, adota medidas com o objetivo de melhorar as notas dos alunos. Se for preciso fazer uma reforma no prédio, ela é feita, com fornecedores pagos diretamente pela empresa. Mas o que faz diferença é a intervenção pedagógica e administrativa nas escolas. Elas continuam públicas – recebem dinheiro e seguem as diretrizes da Secretaria Estadual –, mas sofrem uma injeção de know-how privado. “A Parceiros complementa o trabalho do Estado”, afirma Ana Maria Slugisnki, chefe do Departamento de Parcerias da Secretaria da Educação. Os empresários podem gastar entre R$ 70 mil e R$ 200 mil por ano com cada escola.
Funciona assim: logo que uma escola é adotada, a equipe da Parceiros se reúne com a direção, a coordenação e com os professores para identificar quais são as necessidades e as deficiências. Da falta de livros ao relacionamento dos funcionários. A partir do diagnóstico, é traçado um plano de ação, com metas e caminhos para chegar até elas. Cada escola tem o que é chamado de facilitador – em geral, um pedagogo, contratado pela Parceiros –, que faz a ponte entre a empresa e a direção escolar. No final, se o empresário topar financiar, uma avaliação interna elaborada pela Cesgranrio é feita para medir a melhora no desempenho dos alunos. Alguns empresários estipulam bônus para os professores que conseguem alcançar suas metas.
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