Adeus ao Trabalho?
(Ricardo Antunes)
PRIMEIRA PARTE
CAP. I. FORDISMO, TOYOTISMO E ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL
A década de 80 foi de profundas transformações nos países de capitalismo avançado e mais ainda de transformações no mundo do trabalho – mudanças diríamos drásticas para os trabalhadores. Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais aguda crise deste século, que atinge não só sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua subjetividade e afetou sua forma de ser. Dentre esses novos processos produtivos, dois merecem destaque especial: acumulação flexível e o toyotismo. O primeiro tendo a Terceira Itália como cenário, tem possibilitado o surgimento de uma nova forma produtiva que articula, de um lado um significativo desenvolvimento tecnológico, do outro uma descentração produtiva. O segundo, o toyotismo que combinando a experiência da indústria têxtil com a gestão de supermercado (kanban) na indústria automobilística propiciou um extraordinário desenvolvimento do parque industrial japonês. No caso da indústria têxtil um trabalhador opera várias máquinas, na Toyota, em média seis – trabalhador polivalente. No caso do processo Kanban a produção orienta-se no sentido de recolocar o produto no estoque logo após a sua venda. Ou seja, é a partir da venda que se inicia o processo produtivo. Esta orientação o distingue basicamente em relação ao fordismo, pois é o consumo que orienta a produção e não o contrário, como ocorre em uma produção de base fordista.
Aliado a isso o toyotismo mostrou-se eficiente na luta contra a ação dos sindicatos japoneses, havia que enfrentar o combativo sindicalismo japonês responsável por uma atuação marcada por vários conflitos grevistas. Após a vitória sobre o movimento sindical as empresas criaram o que se constitui no traço distintivo do sindicalismo japonês da era toyotista: o sindicalismo por empresa, o sindicato-casa, assim, parece desnecessário lembrar que essas práticas subordinaram os trabalhadores ao universo empresarial, criando formas de manipulação e monitoramento dos sindicatos a partir da implantação de um sindicalismo de envolvimento, ou seja, obedecendo a uma hierarquia que “pudesse fazer” com que houvesse uma manipulação de desarticulação desses sindicatos, isso tudo possível, pois, se comparado ao fordismo seus constitutivos básicos – do toyotismo – vemos que os processos de produção se diferenciam quanto aos seus objetivos, o toyotismo visa sua produção somente a atender a demanda, e o fordismo produz de forma “desordenada”, em massa, visando lucrar da forma mais satisfatória possível , como já afirmado acima.
Assim, julga-se pertinente afirmar que a “substituição” do fordismo pelo toyotismo não deve ser entendida como, o que nos parece óbvio, como um novo modo de organização societária, livre das mazelas do sistema produtor de mercadorias e, o que é menos evidente e mais polêmico, mas também nos parece claro, não dever nem mesmo ser concebido como um avanço em relação ao capitalismo da era fordista e taylorista. Essas transformações, presentes ou em curso, abrangentes a todas a áreas sociais do trabalham, em todos os países, afetam significativamente o operariado industrial tradicional, acarretando metamorfoses no ser do trabalho.
A derrocada do Leste europeu fez cair o “ideário” do operariado e assim, os sindicatos operaram um intenso caminho de institucionalização e de crescente distanciamento dos movimentos autônomos de classe. Distanciam-se da ação desenvolvida da ação, desenvolvida pelo sindicalismo classista e pleos movimentos sociais anticapitalistas que visavam o controle social da produção , ação esta tão intensa em décadas anteriores , e subordinam-se à participação dentro da ordem. As diversas formas de resistência de classe encontram barreiras na ausência de direções dotadas de uma consciência para além do capital , essa contextualidade cujos repercutiu criticamente no mundo do trabalho, principalmente no universo operário, o que levaria a muitas indagações como: Quais foram as consequências mais evidentes e que merecem maior reflexão? A classe operaria estaria desaparecendo? O trabalho não é mais protoforma da sociedade?
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