Adeus ao Trabalho?
(Ricardo Antunes)
PRIMEIRA PARTE
CAP IV. QUAL A CRISE DA SOCIEDADE DO TRABALHO?
A diminuição do fator subjetivo do processo de trabalho em relação aos seus fatores objetivos ou o aumento crescente do capital constante em relação ao variável reduz relativamente, mas não elimina o papel do trabalho coletivo na produção de valores de troca (Marx, 1975: 723,724).
Habermas faz a síntese mais articulada desta tese – a primeira a utopia da sociedade do trabalho perdeu sua força persuasiva. Acima de tudo a utopia perdeu seu ponto de referencia na realidade: a força estruturadora e socializadora do trabalho abstrato. É necessário assinalar que ao contrário das formulações que preconizam o fim das lutas sociais entre as classes, é possível reconhecer a persistência dos antagonismos entre o capital social total e a totalidade do trabalho ainda que particularizado pelos inúmeros elementos que caracterizam a região, país, economia, sociedade, cultura, gênero, sua inserção na estrutura produtiva global, etc. Dado o caráter mundializado e globalizado do capital, torna-se necessário apreender também as particularidades e singularidades presentes nos confrontos entre as classes sociais, tanto nos países avançados quanto naqueles que não estão diretamente no centro do sistema – do qual faz parte uma gama significativa de países intermediários e industrializados como o Brasil.
É importante reafirmar que o trabalho, entendido como protoforma da atividade de humana, não poderá jamais ser confundido como o momento único ou totalizante; ao contrario, o que aqui estamos procurando reter é que a esfera do trabalho concreto é ponto de partida sob o qual se poderá instaurar uma nova sociedade. Numa sociedade sem classes, a apropriação e o controle sobre produção social pelos produtores associados significarão, ao contrário, uma redução radical do tempo de trabalho, entre aqueles e aquelas que têm acesso a todos os conhecimentos e aqueles que estão separados da maior parte do saber. Todo o amplo leque de assalariados que compreende o setor de serviços, os trabalhadores “terceirizados”, os trabalhadores do mercado informal, os “trabalhadores domésticos”, os desempregados, os subempregados, aos trabalhadores diretamente produtivos e por isso, atuando enquanto classe, constituem-se no segmento social dotado de maior potencialidade anticapitalista. Ainda que reconhecendo que esta empreitada é muito mais complexa e difícil que no passado, quando a sua fragmentação e heterogeneidade não tinham a intensidade encontrada no período recente.
De outro lado, coloca-se um desafio enorme, dado pela existência de um ser social complexificado, que abarca desde os setores dotados de maior qualificação, articulação e unificação destes que compõem a classe trabalhadora sejam, não é demais repetir, um desafio de muito maior envergadura do que aquele imaginado pela esquerda socialista, classe trabalhadora aceitem o desafio de buscar os mecanismos necessários, capazes de possibilitar a confluência e aglutinação de classe, contra todas as tendências á individualização das relações de trabalho, á exacerbação do neocorporativismo, ao acirramento das contradições no interior do mundo do trabalho etc.
O trabalho alienado (ou estranho) é a forma como a atividade humana se objetiva na sociedade capitalista, onde o que deveria ser uma atividade vital do ser social que trabalha se converte em mercadoria, e o produto do trabalho aparece como alheio e estranho ao trabalhador. O ser social que trabalha deve somente ter o necessário para viver, mas deve ser constantemente induzindo a querer viver para ter ou sonhar com novos produtos. A necessidade de ter do trabalhador, pelo contrário, diz respeito á sua mera sobrevivência: vive para manter-se, o trabalhador deve priva-se de toda necessidade para poder satisfazer uma só, manter-se vivo. Quando se pensa na subjetividade da classe-que-vive-do-trabalho na sociedade contemporânea, que as mudanças em curso no processo de trabalho, apesar de algumas alterações epidérmicas, com que as ações desencadeadas no mundo do trabalho, contra as diversas manifestações do estranhamento, tornam-se necessário apreender também as particularidades e singularidades presentes nos confrontos entre as classes sociais, onde procuramos aprender algumas tendências e metamorfoses em curso no mundo do trabalho, é um primeiro resultado.
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