Déjà VU II
(NELSON PASCARELLI FILHO)
São 7h10 da manhã e minha terapia começa às 8h00. Estou no ônibus elétrico, não confio nele, nunca confiei! Fico a pensar o que direi à analista junguiana, tão demasiadamente humana; tive surtos de ansiedade, planejei furtar-me totalmente de mim - sou tantos, e fragmento-me em culpas: poderia ter sido melhor pai, esposo e filho! Depois da primeira tentativa, perdôo-me, porque toda culpa é imunda e engessa. O zíper do blusão abre e desune, eu estou de peito aberto e o vento outonal castiga-me! Desde o início do outono sinto-me triste, e eu que tanto desejei que ele chegasse! Deseja-se e depois sente-se estorvo! Meus alunos pequenos abraçam-me sinceramente e enchem-me os bolsos de balas e pirulitos. Qual o sentido de tudo isso se as faces da morte - tédio, o erro do erro, a mesmice e a finitude - escarram-me existencialismos fétidos?! No intervalo entre as chegadas, em que pensará minha analista demasiadamente humana? Retro-gosto do caos psíquico: - ainda sou pontual para zombar da morte, acerto os ponteiros do relógio-cuco à meia noite do outono indeciso...
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