A mulher invisível
(Isaias Carvalho)
Uma possível análise do filme A mulher invisível (Conspiração Filmes, Warner Bros. Pictures, Globo Filmes, 2009; 105 min), do diretor Cláudio Torres, pode tomar como tema questões referentes à condição de invisbilidade da mulher em práticas sociais que englobam relações de poder assimétricas naturalizadas no corpo social. Pode-se revelar como o desejo feminino é invisibilizado e recalcado, sendo representado pela visão falocêntrica.De fato, o silenciamento e a invisibilidade da mulher e de seus desejos são fatos bem visíveis nas práticas sociais construídas ao longo de séculos de falocentrismo. Esse filme brasileiro, considerado como texto, linguagem e comunicação, não representa o meio social de modo passivo, mas também ativamente, lançando sentidos e modelando perspectivas, para fundar realidades discursivas. Discurso considerado em seu sentido amplo que é empregado para significar as várias maneiras pelas quais a comunicação entre as pessoas acontece, ou seja, o discurso considerado como uma relação ativa com a realidade. Desse modo, é nessa relação de reciprocidade formadora de discursos que a análise de A mulher invisível enfatiza as representações do desejo da mulher e de sua invisibilidade nas práticas sociais em torno da família, do casamento e do relacionamento entre mulher e homem. Mas uma sinopse deve ser oferecida para que se possa instigar o leitor a assistir ao filme: Pedro (Selton Mello) é um controlador de tráfego na cidade do Rio de janeiro. Ele é do tipo que mantém a crença na instituição do casamento, mas entra em depressão após ser abandonado por sua esposa, Marina (Maria Luísa Mendonça). Seu colega de trabalho e melhor amigo Carlos (Vladimir Brichta) representa um posição masculina diversa, pois não compreende como um homem pode passar a vida inteira com uma única mulher. É esse amigo que tenta ajudá-lo a sair para “caçar”. De modo simetricamente similar, Vitória (Maria Manoella), vizinha de Pedro, acredita no casamento, enquanto seu marido a abandona pelo álcool, pelo futebol e pela alimentação desregrada (e acaba morrendo, o que significa o abandono final). Ela também tem uma amiga que, do mesmo modo, segue a linha de Carlos, ou seja, curtir a vida e variar. Vitória acompanha o drama da separação de Pedro e Marina ouvindo através da parede. Ela acompanha, inclusive, a chegada de Amanda (Luana Piovani), a suposta nova vizinha, na vida de Pedro. Aí se dá uma revolução. Porém, o mote central do filme é justamente este: Amanda é uma mulher invisível, ou seja, Pedro de fato mantém uma relação com a própria fantasia, com a perda da referência ao real. A mulher invisível é, ao fim e ao cabo, a mulher idealizada no imaginário machista de “consumo de mulheres”. E nessa última frase estão o tema e a ideologia de que se pode dispor para pensar esse filme. Quanto às condições de produção do filme, há que se destacar o fato de ser produto de parceria de grandes produtoras e distribuidoras, a exemplo de Globo Filmes, Conspiração Filmes e Warner Bros. Entertainment. É uma comédia para o grande circuito comercial de cinema nacional, dirigido por um homem, Cláudio Torres, mas com roteiro de predominância feminina (Adriana Falcão; Cláudio Paiva e Maria Luisa Mendonça) e produção executiva com a participação de uma mulher, Eliana Soárez, em conjunto com Leonardo Monteiro de Barros, Luiz Noronha e Pedro Buarque de Hollanda. Essa mescla de homens e mulheres em lugares-chave da cadeia de produção do filme o torna ainda mais legítimo para significar a relação ativa com o real na construção do discurso, o produto cinematográfico aqui tomado como discurso. É ver para crer.
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