Versão mineira de Bernard Madoff some com R$ 50 milhões
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Versão mineira de Bernard Madoff, operador de Wall Street acusado de controlar esquema bilionário de pirâmide financeira, o empresário Thales Emanuelle Maioline, de 34 anos, que administrava um fundo de investimentos de R$ 50 milhões, está desaparecido desde a sexta-feira passada. Ele teria sumido levando todo o dinheiro da Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros, a ele depositado em confiança por cerca de 2 mil investidores de Itabirito, Belo Horizonte e de outras 12 cidades do interior de Minas Gerais, incluindo donos de faculdades, construtoras e também pessoas comuns, que vendiam suas casas e largavam os empregos passando a viver dos altos rendimentos prometidos pelo suposto fundo de ações.
As informações constam do B.O. lavrado pela Polícia Civil de São Paulo, informando o desaparecimento de Thales a pedido da própria irmã, Ianny. Também a Polícia Civil de Minas e a Polícia Federal foram acionadas para investigar o paradeiro do empresário e o rombo nas contas. Antes de dar o sumiço, Thales teria passado a empresa para o nome dessa mesma irmã e do então administrador do fundo, Oséias Marques Ventura. “Juro que não sabia de nada disso. Ofereço os meus telefones para rastrear as ligações. Perdi tudo o que eu tinha e estou sendo ameaçada com as minhas filhas”, afirma Ianny. Na companhia do advogado Marco Antônio de Andrade, a mulher foi a uma reunião convocada às pressas pelos investidores revoltados na sede da empresa, no Bairro Buritis, Região Oeste de BH. “Sei que o pai do Thales teve um infarto segunda-feira ao ver os e-mails do Thales, indicando os planos de fuga. Antes disso, a família suspeitava de sequestro”, afirma uma fonte.
A reportagem do Estado de Minas conseguiu ter acesso à reunião de quarta-feira, a portas fechadas, que ocorreu em clima de tensão com cerca de 30 pessoas, entre investidores e funcionários da empresa que também investiam no negócio. Na porta, dois seguranças particulares garantiam a integridade dos consultores da Firv, que, antes do calote, administravam cotas de R$ 2,5 mil a até R$ 5 milhões. Thales atraía investidores oferecendo níveis de rentabilidade que chegavam a 5% ao mês, além de 11% a cada seis meses. Ele, então, utilizava o dinheiro desses novos investidores para pagar clientes antigos que queriam resgatar os recursos aplicados. O esquema funcionava porque os rendimentos não eram pagos aos investidores todo mês. Esse dinheiro só seria devolvido ao cliente quando este fosse resgatado, mas a maioria reaplicava os valores em função dos altos ganhos. Ele também “dava” o incentivo de 11% a quem permanecesse por seis meses no fundo.
O esquema de fraudes veio à tona depois que a CVM, autarquia que fiscaliza as operações financeiras no país, soltou comunicado, informando que a empresa de Thales não estava apta a realizar esse tipo de operação. “Thales era o típico ‘gente boa’ e não tinha medo de nada. Quando os investidores ficaram a par da notificação, ele chamou todo mundo para o Ouro Minas e disse que havia depositado R$ 1 milhão para transformar a empresa em S/A”, afirma o dono de uma construtora, que não quer ser identificado. “Não vou dizer o meu nome porque passaria um atestado de bobo por ter caído nessa conversa. Fui iludido todo esse tempo”, desabafa o empresário. Ele amarga prejuízo de R$ 1,8 milhão, depois de passar meses recebendo dividendos de R$ 10 mil a R$ 30 mil, depositados na data certa, religiosamente.
Outra “prova” que Thales apresentou aos investidores seria um extrato bancário mostrando as contas recheadas com R$ 97 milhões. “Ele dizia ter R$ 60 milhões em cash para nos pagar e ainda outros R$ 30 milhões para tocar a empresa, caso quisesse desistir do negócio. Só agora sabemos que o documento era forjado. Por cima dos números verdadeiros do extrato, que já estava zerado, Thales teve o trabalho de colar falsos valores por cima. Ele teve a paciência de tirar 12 cópias até a falsificação ficar perfeita”, informa um dos investidores, amigo de infância de Thales, que levou cano de aproximadamente R$ 2 milhões. Ele e mais dois consultores do Firv administravam perto de R$ 25 milhões, de um grupo expressivo de 40 investidores de grande porte de Itabirito que concentrava 50% do valor arrecadado pelo fundo de investimentos. “Não sei como fui cair nessa conversa. Meus clientes perderam tudo e eu já fui ameaçado de morte por três pessoas. Estou apavorado”, revela ele, com as mãos tremendo.
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