Admitindo homens junto das parturientes
(Dr. Adérito Tavares)
Á medida que noite avançava, a parteira começou a aperceber-se que o parto não estava a correr bem: a criança já tinha morrido. A parteira quebrando a tradição de que só as mulheres podiam assistir a um nascimento, chamou um cirurgião. O mais importante passou a ser salvar a vida da mãe e a única coisa que o médico pôde fazer foi retirar a criança.
Até ao século XVII, era usual vedar aos homens a entrada no quarto das parturientes, a menos que fosse uma emergência. Contudo, a situação começou a alterar-se na Grã- Bretanha com a ascensão social da família Chamberlein.
No início do século, Peter Chamberlein, o primeiro homem da família a exercer a actividade de "parteiro", inventou um instrumento para extrair a criança do útero materno em caso de parto difícil: o fórceps. Este instrumento tinha duas pás de metal que podiam ser introduzidas separadamente na pelve da mãe e ajustadas á cabeça da criança, o que permitia ao médico puxar a criança com muito menor risco de lesão do que até então. Este instrumento manteve-se segredo da família até Hugh Chamberlein, neto de Peter, o ter revelado a Rogier van Roonhuysen em 1727, provavelmente em troca de um perdão de dividas. Em 1733, quando foi publicado o primeiro relato ilustrado do uso de fórceps, começava a aumentar a procura de médicos parteiros.
No entanto dar á luz continuava a envolver inúmeros riscos, em especial para as mulheres que optavam por fazê-lo num hospital. A febre puerperal chegava a dizimar 35% das parturientes nos hospitais. Após o parto, sobrevinham as dores abdominais fortes e febre alta, que faziam temer o pior. A febre puerperal, cuja origem era bacteriana chegava a dizimar todas as ocupantes de uma enfermaria. Só na década de 1860 a ciência médica começou a lutar eficazmente contra esta doença.
O grande passo em frente foi dado pelo obstetra Húngaro Ignaz Semmlweis, que trabalhava num hospital de Viena. Esse especialista verificou que se registavam três vezes mais mortes por este febre nas enfermarias visitadas por médicos e estudantes do que naquelas onde só entravam parteiras. Foi também alertado pelo facto de um colega que dissecara um cadáver ter morrido com sintomas idênticos aos da febre puerperal. Semmelweis deduziu que a causa do problema residia na práctica de sair das salas de autópsia sem lavar as mãos. Quem assim procedia transferia algo de perigoso dos cadáveres para as mães.
Obrigou assim, todo o pessoal das suas enfermarias a lavar as mãos numa solução de hipóclorito de cálcio antes de tratar os doentes. Os resultados foram espectaculares: a taxa de mortalidade nas enfermarias da maternidade passou de 16 para 2%.
No entanto, o seu trabalho foi violentamente rejeitado pela classe médica, em parte devido a rivalidades pessoais.
Só em 1890 o advento da microbiologia lhe fez justiça.
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