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Rádio e Hegemonia: observações sobre a disputa da opinião pública no c
(Eliana Cristina Paula Tenório de Albuquerque)

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Por suas características, o rádio vem se apresentando como o meio de comunicação de massa mais próximo do público. Estruturalmente maduro e fortemente sedimentado junto à maioria da população, é um meio com inesgotável capacidade de atualização, o que implica na necessidade permanente de estudos capazes de analisar e explicar os fenômenos ai emergentes. A representatividade atribuída ao veículo no cotidiano social brasileiro demonstra a sua vocação popular e democrática, tornando-se um componente midiático obrigatório para aqueles que querem interagir com a sociedade de forma mais ampla e abrangente (DEL BIANCO, 1999). Conforme Martins (2009), o radio chega a 88% das moradias do país e a 83% dos automóveis. No sul da Bahia, o rádio está presente em 99,7% dos lares regionais, obtendo picos de audiência superiores aos alcançados pelas emissoras de televisão nos seus horários nobres (ALBUQUERQUE, 2004). Por esses dados, pode se deduzir que, mais do que através de qualquer outro media, é pelo rádio que milhões de pessoas se informam e que muitas delas – especialmente aquelas que vivem em zonas rurais ou periféricas - encontram sua principal fonte de entretenimento, lazer e companhia, tornando-se, desta maneira, a principal ligação do cidadão com o mundo que está para além das suas fronteiras, da sua realidade diária e do seu universo particular.  Talvez por isso o rádio tenha sido o palco escolhido por forças antagônicas para travar o debate que tem movimentado a opinião pública regional no último ano: a construção do complexo intermodal de transportes (porto, aeroporto, ferrovia) em uma área ambientalmente protegida: a Área de Proteção Ambiental da Lagoa Encantada, situada no litoral norte do município e interligada a outras áreas protegidas, como o Parque Estadual do Conduru e a Área de Proteção Ambiental de Itacaré e Serra Grande, onde já existe uma forte vocação turística. Além disso, na área em questão estão situadas vilas e povoados centenários, habitados por populações de pescadores, descendentes de quilombolas, índios e imigrantes que guardam as histórias iniciadas em 1534, quando a Capitania de São Jorge dos Ilhéus foi doada ao fidalgo português Jorge de Figueiredo Correia e, a partir de 1822, tornou-se o que veio a ser chamada de “terra do cacau” (BARBOSA, 1994). O projeto “Porto Sul” faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e é destacado pelo governo do Estado da Bahia como prioritário e estratégico para o crescimento da região. Entre as ações previstas no projeto está a construção de um aeroporto internacional e de uma ferrovia que cortará a Bahia no sentido oeste-leste, passando por diversos municípios até chegar a Ilhéus, onde será implantado um porto em águas profundas para exportação, entre outras coisas, do urânio extraído em Caetité, no oeste do Estado. Associado ao complexo intermodal há a indicação de ampliação do pólo industrial local, com a instalação de empresas metalúrgicas e siderúrgicas, entre outras. Polêmico em sua essência, já que implica em mudanças estruturais para um município historicamente agrícola e dono de fortes expressões culturais, o projeto suscitou intenso debate desde seu nascedouro. Imediatamente após o anúncio oficial das obras, duas das principais emissoras locais de rádio – a Santa Cruz FM e a Conquista FM - abriram seus microfones para a polêmica, colocando-se claramente contra e a favor do projeto. As posições tornaram-se ainda mais cristalizadas quando a Bahia Mineração, empresa responsável pela obra, instalou uma base de apoio na região e passou a distribuir sua verba publicitária, buscando, através desse recurso e de outros, a aceitação da população, cuja maioria é contrária ao projeto. O rádio tornou-se, assim, o principal elemento construtor da hegemonia necessária à instalação da empresa e à implantação da política desenvolvimentista do Estado para a região. Diante disso, este artigo analisa e discute a cobertura que as emissoras fizeram sobre o assunto desde junho de 2009 até junho de 2010 e avalia as estratégias usadas para fazer com que o meio se tornasse o principal palanque para concepções distintas: uma delas ligada à visão capitalista de desenvolvimento prioritariamente econômico e industrial; outra à visão de desenvolvimento alicerçado na preservação ambiental e no turismo. Trabalha-se aqui com o conceito de hegemonia proposto por Gramsci, sendo o rádio, nesse momento, o instrumento principal para obtenção desta hegemonia, locus aonde vai se processar a disputa entre as diferentes concepções que buscam o consenso. Vale ressaltar que este trabalho não considera o rádio como mero instrumento de manipulação nem o vê como um meio “puro”, onde os fatos são reproduzidos de forma neutra e equânime, mas sim como espaço vivo e dialético, onde se expressam permanentemente os conflitos entre as diversas concepções de mundo que estão em disputa pela hegemonia. A audiência e a opinião pública, como sua conseqüência natural, são etapas neste processo.



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