Refeições sobre rodas
(Dr. Adérito Tavares)
Ao longo da manhã, centenas de pessoas fizeram bicha junto da tenda montada diante do Quartel Real de Dublin, de dentro da qual evolava o aroma da sopa de carne e legumes que estava a ser cozinhada por Alexis Syer, chefe de cozinha do Reform Club.
Corria o mês de Abril de 1848 e a escassez de batata nos dois anteriores anos originava um grave problema alimentar que atingia milhares de irlandeses. Perante esta situação de fome, Soyer lançou um apelo público para a criação da sopa-dos-pobres. Pouco depois de chegar a Dublin, montou uma tenda de madeira e lona onde se preparavam até 1360L de sopa num caldeirão. A tenda tinha ainda mesas para o corte dos legunes e da carne e do tecto pendiam latas com temperos e espessantes. A primeira saída de sopa era servida em oito grandes panelas.
Quando soava a sinete, as pessoas da bicha entravam em grupos de 100 de cada vez. Após a acção de graças, cada pessoa tinha 6 minutos para consumir 1L de sopa de uma tijela de esmalte a que estava presa uma colher de metal, limpá-las com uma esponja embebida em água quente e abandonar a tenda pela porta de saída.
Desta forma, Soyer alimentava 1000 pessoas por hora durante oito horas diárias. Para os debilitados ou doentes que não podiam ir à tenda, inventou as chamadas "refeições sobre rodas".
Transportados em carroças puxadas por cavalos, os recipientes eram colocados em cima de pequenas estufas para que a sopa se mantivesse quente até chegar àqueles que a recebiam em casa.
Enquanto permaneceu em Dublin, Soyer publicou receitas para sopas, guisados, pães e pudins baratos, mas nutritivos. Deixou também aluguns conselhos acerca das peles dos legumes, que, segundo afirmava, não se deviam deitar fora, mas ser utilizados nas sopas para lhes dar mais corpo e sabor.
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