Uma prisão de luxo
(Dr. Adérito Tavares)
Pouco depois da tomada da Bastilha, em 14 de Julho de 1789, começaram a vender-se nas ruas de Paris, gravuras que reproduziam as fantasiosas impressões dos seus autores acerca das condições no interior da prisão.
Nelas, relatavam-se dezenas de prisioneiros definhando, acorrentados nas masmorras infestadas de ratazanas, junto de esqueletos agrilhoados.
A prisão admitia também visitantes, que eram guiados pelas masmorras para verem aquilo que se afirmava serem os cruéis instrumentos de tortura utilizados pelos carcereiros. Na verdade, tratava-se apenas de uma velha armadura e de parte de um prelo. Assim, as gravuras não passavam do produto da imaginação dos artistas, alimentada pelos acontecimentos da época e pelas numerosas lendas acerca da Bastilha.
Edificada como fortaleza no século XIV, a Bastilha, situada na orla do populoso bairro de Faubourg Saint-Antoine, era uma mole sinistra, com oito torres cilíndricas e muralhas de 1,5m de espessura rodeadas de um fosso seco. Utilizada desde longa data como prisão, a Bastilha adquirira fama de um lugar onde os inocentes eram encarcerados e votados ao esquecimento. Em 1774, quando Luís XVI subiu ao trono, os prisioneiros não eram criminosos vulgares, mas pessoas presas por ordem do rei ou dos seus ministros com base numa "Lettre de Cachet" (mandado especial do rei), por crimes como actividades subsersivas ou conspiratórias.
Um dos mais ilustres prisioneiros da Bastilha foi François-Marie Arouet, que adoptou o pseudónimo de Voltaire em 1718, quando cumpria uma pena de 11 meses por satirizar o duque de Orleães. Nesse interim, Voltaire reescreveu a sua tragédia "Oedipe" (Édipo), levada á cena com êxito em Paris pouco tempo depois. Outra celebridade foi o marquês de Sade, que ali cumpriu pena de prisão por obscenidades desde 1784 até uma semana antes da tomada da Bastilha.
Ños anos de 1780, a Bastilha teve apenas um punhado de prisioneiros, guardados por soldados que tinham ficados inválidos durante o tempo de serviço. Á parte o sofrimento causado pela privação da liberdade, as condições em que vivia a maior parte dos presos eram luxuosas quando comparadas com as outras prisões. Tratados de acordo com a sua condição, os presos tinham horas de visita e aposentos mobilados que eram autorizados a decorara com os seus próprios apetrechos.
Para o povo, no entanto, a Bastilha constituía um poderoso simbolo da monarquia absolutista.
Foi por isso um alvo obvio a atacar quando a população parisiense se sublevou. Após um ataque que durou até ao príncipio da noite, a Bastilha caíu, com a perda de 100 vidas, incluindo a do governador, o marquês de Launay, cuja cabeça foi passada por Paris espetada num chuço.
Foi um elevado preço a pagar pela libertação dos prisioneiros que eram apenas sete: Quatro falsificadores; o conde de solages detido por ofensas sexuais e dois loucos. Um destes era uma figura escanzelada, com uma barba branca que lhe chegava à cintura. Conhecido como o major Whyte, era para uns inglês, enquanto outros o consideravam irlandês; e o facto de o levarem em parada triunfal pelas ruas de Paris serviu apenas para lhe confirmar a ilusão de ser Júlio César.
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