Funções Sociais da Escola:da Reprodução à Reconstrução do Conhecimento
(Péres Gomes)
A função da educação tem sido dirigida à socialização dos indivíduos de forma conservadora para garantir a reprodução social e cultural, para a sobrevivência da sociedade. É necessário, porém, que haja equilíbrio tanto na conservação quanto na mudança. Sendo assim, um dos objetivos básicos que se tem exigido da escola é a incorporação do aluno ao mundo do trabalho. Porém, o principal questionamento que se tem colocado em debate é o seguinte: o que significa preparar para o mundo do trabalho? Como esse processo se realiza? Outro objetivo que sempre é destacado refere-se à formação do cidadão para que este possa vir a intervir na vida pública. Há, no entanto uma notória contradição dos objetivos educacionais: buscam promover o desenvolvimento de comportamentos individuais que permitam a participação consciente no mundo através da liberdade de escolha, participação política e familiar e, por outro lado, conduzem à incorporação submissa e disciplinada do mundo do trabalho. Há a contradição entre libertação, autonomia e conformismo social. A escola legitima a ordem existente e passa a ser uma “válvula de escape” das contradições de desajustes sociais que vão além do espaço escolar. Quanto à seleção e organização dos conteúdos do currículo, escolhe-se o que se deve mostrar e omitir da cultura, sem que haja participação do aluno, muita rigidez na ordenação do espaço e tempo em sala de aula, critérios de avaliação classificatória dos resultados, ideologia vinculada a recompensas que incentivam a competitividade e individualismo que anulam a colaboração e controle rígido das normas de convivência. Dessa forma, o processo de socialização ocorre sempre através de uma negociação tumultuada – há resistências tanto de alunos como de professores. Pode ocorrer até a recusa em implantar as tendências reprodutoras da instituição escolar (o professor é então tido como de ‘esquerda’ e o aluno como “indisciplinado”); a escola que tende à homogeneidade não consegue promover o desenvolvimento de idéias, atitudes e comportamentos tão exigidos pelo mercado de trabalho que exigem disciplina, submissão e padronização concomitantes a um trabalho individual que se paute na iniciativa, criatividade, diferenciação. Portanto, se a socialização da escola ficar atrelada ao mundo do trabalho, continuará encontrando dificuldades de compatibilidade com outras instituições sociais, como por exemplo, as relações de convívio familiar democráticas, deixando de suprimir e, sim, legitimando as diferenças sociais. As diferenças de entrada no ambiente escolar são confirmadas na hora da saída, fazendo com que elas se tornem individuais. A função educativa da escola não pode estar vinculada à essa concepção reprodutora do processo de socialização, mas, estar atenta ao conhecimento público que o aluno traz para escola, adquirido em suas diferentes vivências comunitárias. É este conhecimento que pode ser o elemento de quebra do processo reprodutor. Ela deve conter dois eixos de intervenção: a desigualdade social só será erradicada através do respeito à individualidade e diversidade; pela incorporação dos “saberes” que o aluno traz de sua vivência fora da escola; ele necessita ser conduzido a pensar criticamente e a incorporar uma conduta democrática para que se possa viver em uma sociedade democrática. Como a escola deve proceder? Sempre optando pela diversidade pedagógica, com um modelo didático flexível e plural para que possa atender às diferenças de origem, de acomodação da cultura pública ás exigências externas e políticas, motivações e capacidades individuais. Se assim não proceder, caminhará para a consagração da discriminação e da intolerância social. A democracia precisa ser entendida muito mais como um estilo de vida e uma idéia moral do que uma forma de governo. A dificuldade está justamente no equilíbrio que precisa se fazer presente frente as imposições externas superiores e as diversidades internas da escola. Não pode ser esquecido o poder de influência da mídia que contém sempre uma ideologia que induz e seduz o indivíduo, além de procurar justificar a realidade cotidiana. Para combater essa intervenção devem ser incentivadas a reflexão e a comparação críticas dos pareceres e propostas que invadem a vida do sujeito a todo instante.
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