Como tornar as nossas ideias claras
(Charles Sanders Peirce)
No primeiro parágrafo (388) Peirce apresenta as noções da Lógica que lhe serão objetos em sua explanação, a saber, as seguintes noções: clareza, obscuridade, distinção e confusão.
No parágrafo 389 Peirce oferece com mais detalhes a noção de idéia clara. Dessa forma, diz ele que “uma idéia clara é definida como uma que é apreendida de tal forma que será reconhecida onde quer que se encontre, de modo que nunca será confundida com outra. Se esta clareza faltar, dir-se-á então que é obscura”. No entanto, esta definição não satisfaz Peirce o qual exige uma maior clareza. Para ele, apenas “ter a certeza” de que apreendemos uma idéia com a simples posse ou com o poderio do olhar parece-lhe ser uma pretensão ou mesmo uma ilusão utópica tendo em vista a realidade que nos cerca, e que talvez, os lógicos, na verdade, tenham querido dizer outra coisa, isto é, que essa apreensão tem mais a ver com uma certa familiaridade com a idéia. Contudo, mesmo assim, ou seja, mesmo que esta idéia nos pareça familiar, há ainda que ser complementada, ainda é preciso que além da clareza haja também a distinção. Um tal engano, segundo Peirce, se deve a um sentimento subjetivo de nossa parte. Percebemos, com isso, um significativo golpe desferido contra o sujeito e a sua subjetividade que, como disse anteriormente, perde o seu status principal com a Filosofia da linguagem. Portanto, neste parágrafo, a definição de idéia clara, os seus problemas e a sua relação com a questão da subjetividade se mostram mais abertos aos que o lêem.
Passando para o próximo parágrafo, o 390, este se ocupará agora da definição de idéia distinta. Sobre ela, diz Peirce que “Uma idéia distinta é definida como uma que não contém nada que não seja claro”. Numa primeira aproximação, esta definição parece se confundir com a anterior, pois o seu critério ainda se estabelece com as muletas da noção de clareza, mas se prestarmos uma maior atenção na explicação de Peirce, perceberemos sobre o que ele está falando, pois como ele dirá, isto é linguagem técnica. Na verdade, o critério de validação da noção de idéia distinta reside no conteúdo da sua definição, ou em outras palavras, nos elementos que constituem os termos da definição. Com isso, o autor quer dizer que além da idéia ser familiar a ponto de ser reconhecida em qualquer lugar em que se encontre, ela também deve conter elementos, noções ou partes de sua definição que sejam apenas pertinentes a ela e não se confundam com nenhuma outra, e esta atividade só é possível em termos abstratos.
No parágrafo 391 ele explica a filosofia cartesiana em contraposição à escolástica. Segundo ele, os escolásticos procuraram validar a verdade na autoridade (e é nesse momento do texto a primeira vez em que a verdade se coloca no problema e como problema). Bem, como eu dizia, para os escolásticos a verdade última, a pedra de toque, a referência primeira última estaria na autoridade, ou mais especificamente, na autoridade divina.
O que Peirce analisa é a passagem do critério da autoridade, de origem escolástica, para o critério da aprioridade, em Descartes. Ele diz que para a filosofia cartesiana a autoconsciência do cogito ergo sun é o fundamento seguro da verdade e o que está de acordo com aquilo que chamamos de razão. Após isso, ele começa a apontar os problemas decorrentes de uma tal filosofia. Como vimos anteriormente no parágrafo 389 Peirce ataca claramente a posição do sujeito nas filosofias precedentes; como já podemos perceber, a noção de sujeito é primordial para Descartes, o sujeito é o princípio de tudo, mas, Peirce enxerga esse sujeito como fonte da verdade como uma aposta equivocada. Peirce recorre àquela definição de idéia clara para atacar Descartes dizendo que a familiaridade da idéia é a de poder reconhecê-la em qualquer lugar onde esteja o que, para o sujeito como fonte da verdade, a idéia que está na realidade é apenas uma aparência, e isso é o que Peirce distingue entre uma idéia que é e uma idéia que parece ser. Esta distinção não ocorreu para Descartes, segundo o autor.
No parágrafo seguinte, o 392, é dedicado ao comentário sobre Leibniz. Num primeiro ponto ele aproxima de Descartes e Leibniz como produtores de uma Filosofia semelhante, pois assim ele diz: “392. Essa era a distinção de Descartes, e uma pessoa verifica que estava à altura da sua filosofia. De algum modo foi desenvolvida por Leibniz. Este grande e singular gênio foi tão notável no que não conseguiu ver como no que viu”.
Peirce critica o poder criador da mente que Leibniz parece aceitar. Quando Peirce afirma que “o mecanismo da mente só pode transformar conhecimento, mas nunca originá-lo” ele se inclina para a concepção hansoniana de uma lógica da descoberta científica, ou como ficará mais claro posteriormente, o fato de haver uma Lógica na própria realidade.
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