A Grande Fuga
(Dr. Adérito Tavares)
No fundo do túnel, um jovem oficial da RAF, deitado de lado e transpirando abundantemente, escavava o solo arenoso a curta distância da cara enquanto outro oficial amontoava a terra solta em vagonetas, que eram levadas até à entrada. Para sair do túnel tinha de rastejar ao longo da parte escavada e subir por uma escada de madeira na parte vertical do túnel até um alçapão que abria para a camarata dos prisioneiros.
Durante o conflito, os prisioneiros de guerra de ambos os lados tinham o dever de tentar a
fuga para voltar ao serviço activo. Para que a tentativa de fuga fosse bem sucedida, e era necessária muita preparação e, no exterior, eram necessários disfarces, documentos falsos e dinheiro para puderam chegar a um país neutral. Alfaiates improvisados transformavam peças de fardamento em trajes civis, prisioneiros especializados forjavam passes alemães e outros fabricavam bússolas em miniatura.
Cada prisioneiro decorava uma pormenorizada e verosímil historia pessoal que satisfizesse as inspecções de segurança q que se tinham de submeter nas estações de comboios e postos de verificação de identidade. Alguns oficiais disfarçavam-se de soldados alemães de licença, mas a maior parte preferia passar por trabalhadores oriundos de países europeus ocupados, pois uma parte da força de trabalho desses países trabalhava na altura na Alemanha.
Na Primavera de 1943, foi montado o plano para uma fuga em massa do Stalag Luft III, Campo da Força Aérea Alemã, para aviadores aliados capturados, em Sagan, 130hm a sueste de Berlin. Foram projectados três túneis, com os nomes de código “Tom, Dick e Harry” – a palavra “túnel” não podia sequer ser murmurada – por forma que se os guardas descobrissem um deles, os outros dois não fossem também descobertos. Os túneis teriam uma profundidade de 9m para evitar a detecção pelos microfones antitúnel que os alemães tinham enterrados no solo. O projecto foi apresentado à comissão de fugas por Roger Bushell, piloto de combate abatido sobre Dunquerque em 1940. Estiveram também presentes o oficial britânicomais graduado do campo, o comandante Harry”Wings” Day, e um especialista em engenharia, o tenente da Força Aérea Canadiana Wally Moody.
Antes de dar início aos trabalhos foi necessário resolver o que fazer às 100t de terra amarelo-viva que seriam removidas durante a escavação.
Surgiram soluções espantosas. Passeando com sacos de terra escondidos debaixo das calças, os prisioneiros deixavam cair disfarçadamente a terra, misturando-a na terra cinzenta do campo arrastando os pés; ou misturavam-na com terra nos jardins da cerca e, sempre que podiam entregavam-se a espalhafatosos simulacros de luta corpo a corpo que levantavam nuvens de poeira, o que lhes permitia espalhar a terra no solo sem atrair atenções.
Junto a todos os campos de prisioneiros de guerra havia guardas especiais, chamados “furões”, que tinham como missão detectar eventuais tentativas de fuga. Os prisioneiros que os observavam permanentemente , criaram um sistema de avisos para alertar os perfuradores dos túneis quando os “furões” estavam demasiado próximos de uma camarata ligada a um túnel. Os trabalhos nos túneis Harry e Dick foram suspensos quando constou que iria ser erguida uma nova cerca no local onde aqueles túneis teriam as suas saídas, pelo que todos os recursos foram de imediato orientados para o terceiro túnel.
Desconfiados, os “furões” acabaram por descobrir a entrada para o “Tom” durante uma busca de rotina e fizeram-no explodir.
Em Janeiro de 1944 a comissão de fugas estava certa de que os alemães acreditavam que tinham cessado as tentativas de fuga, pelo que os trabalhos continuaram no “Harry”. EM meados de Março, o túnel estava acabado, com excepção dos metros finais que conduziriam ao campo. O plano consistia em fazer passar pelo túnel, em vagas sucessivas, 200 oficiais; se tivesse êxito seria a maior fuga em massa da história.
A operação começou às 22h30 de 24 de Março, uma noite sem luar. Um por um, os homens desceram pelo poço do túnel, percorrendo os seus 102m. e os oficiais iam síndo do túnel, já fora da vedação, mas como ol tempo começava a escassear, mais de 100 homens tiveram de voltar para trás.
Pouco antes das 5 horas da manhã uma sentinela descobriu a saída do túnel e deu o alarme.
Tinham conseguido fugir 76 homens. Quando Hitler foi informado, reagiu com fúria, dando como primeira ordem o fuzilamento de todos os fugitivos que fossem apanhados. Foi no entanto persuadido a reduzir esse número para menos de metade. Como resultado, seguiu-se um clamor público a nível nacional.
Só 3 fugitivos chegaram à Grã- Bretanha através da Suécia. Os restantes foram recapturados antes de terem decorrido duas semanas depois da fuga e 50 deles foram fuzilados por resistência à captura ou por nova tentativa de fuga.
Este acto de vingança de Hitler, influenciou a decisão militar britânica, tomada em Outubro de 1944, de que a tentativa de fuga de prisioneiros deixasse de ser um dever. Porém, a sorte dos prisioneiros do Stalag Luft III não evitou tentativas posteriores de fuga. Passados apenas dois meses sobre a Grande Fuga , os oficiais da cerca norte do Stalag Luft III trabalhavam já no “George”, o túnel número quatro.
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