Esforço e perigo a grande profundidade
(Dr. Adérito Tavares)
O mineiro encolheu-se para entrar no veio e, deitando-se de lado, arrancou o carvão com a picareta. Na passagem escura que se estendia atrás dele, uma mulher carregava o carvão num grande vagão de madeira em forma de tina, arrastando-o depois de cheio, por meio de um arnês que lhe passava entre as pernas, preso a um cinto de couro que lhe envolvia a cintura. O túnel até á entrada da mina era íngreme e estreito, e do tecto pingava água, enregelando a infeliz até aos ossos.
Em finais do século XVIII, eram precisas enormes quantidades de carvão para alimentar as fornalhas da Revolução Industrial na Europa, e só havia uma forma de o fazer, á mão.
Famílias inteiras trabalhavam juntas, os homens extraíam carvão das paredes das mina, as mulheres e crianças transportavam-no. As crianças eram essenciais pois em algumas minas, as passagens que conduziam ás zonas de extracção tinham apenas 46cm de altura, obrigando crianças de 5 anos a dobrarem-se para passar.
O dia de trabalho começava entre as 5 e as 6 da manhã. Os trabalhadores desciam pela entrada da mina até ao veio de vagão, preso por um gancho a uma corda, que se baixava fazendo girar um cabrestante ou roda, e uma engrenagem de rodas dentadas ou pela própria corda do cabrestante. Haviam muitos acidentes: colisão de vagãos, trabalhadores que não conseguiam agarrar-se á corda e caíam, ou carvão que caia pela entrada da mina sobre os homens.
No filão, o mineiro extraía o carvão com uma picareta, e depois deitava-o com uma pá numa grande peneira de madeira, o crivo. Um outro trabalhador, em geral mulher ou criança mais crescida, sacudia o crivo para separar o carvão maior do mais pequeno. O carvão maior era deitado no vagão, que quando estava cheio, era arrastado pelo mineiro até á entrada do poço, para ser içado até á superfície, e depois regressava com um vazio.
Um dos maiores problemas da extracção de carvão das minas era o gás metano, altamente explosivo, quando misturado com o ar, o que obrigava os mineiros a trabalhar quase ás escuras. Para manter os níveis de gás sob controle, um homem, envolvido em serapilheiras molhada para não ficar queimado, incendiava as bolsas de gás com uma vela colocada na extremidade de um varão.
Para evitar a formação de bolsas de gás e garantir um certo grau de ventilação na mina, foi concebido um sistema que dependia de mão-de-obra infantil.
Crianças de 5 ou 6 anos abriam portas fechadas hermeticamente para deixar passar os mineiros e os vagões, e certificavam-se de que essas portas ficavam fechadas noutras alturas, para que o fluxo de ar continuasse na direcção certa. Uma porta aberta no local errado podia aumentar o risco de explosão.
Para estas crianças, agachadas na escuridão, era uma jornada de trabalho solitária e dolorosa de 10 horas diárias.
Na Grã-Bretanha, as condições só viriam a melhorar no século XIX, com a promulgação de leis que proibiam que mulheres e raparigas , e rapazes de idade inferior a 10 anos, trabalhassem no interior das minas.
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