Está a soprar!
(Dr. Adérito Tavares)
Empoleirado no topo do mastro, o vigia perscrutava o horizonte. Á distância, divisou um jacto de espuma. Era um cachalote, o tesouro que os baleeiros do século XIX queriam encontrar, a partir do momento em que entravam na zona da caça da baleia, no Atlântico Sul.
“Baleia à vista!”, gritou o vigia. Em poucos minutos, um oficial, quatro remadores e um arpoador corriam para cada uma das três baleeiras de madeira, presas aos lados do navio. Os homens que se encontravam no convés baixaram as baleeiras, de 9m, para a água, e os baleeiros começaram a remar tão silenciosamente quanto podiam em direcção à sua presa.
Quando a baleia ficou ao seu alcance, o arpoador equilibrado sobre a proa, fez pontaria e lançou o arpão, com o cabo a desenrolar-se como um chicote.
Quando o arpão atingiu o alvo, a baleia, ferida, mergulhou para as profundezas do oceano. Se a sorte estivesse do lado dos marinheiros, o animal reapareceria a pouca distância, e começaria então uma perseguição excitante e a grande velocidade (30km/h). Esta corrida podia durar um dia inteiro, e afastar os marinheiros para muito longe do navio, sendo por isso necessário cortar muitas vezes a linha do arpão para não se afogarem.
Quando a baleia , já sem forças desistiu, o oficial desferiu o golpe fatal com uma lança afiada. A baleia debateu-se com violência durante algum tempo, acabando por se virar lentamente até ficar de ventre para cima. Passaram-lhe então um cabo á volta da cauda e começaram a rebocar a carcaça de 18m de comprimento e 50t para o navio-mãe. Quando o alcançaram, amarraram a baleia junto do casco o mais rápido que conseguiram, pois o cheiro do sangue já deveria ter atraído os tubarões e não era possível içar o animal para bordo para não desequilibrar e virar o navio.
Inicia-se então a tarefa de esquartejar a baleia, todos os marinheiros se transformam em açougueiros.
Em primeiro lugar, prendia-se uma plataforma de tábuas ao lado do animal, para que os homens de pé pudessem utilizar uma espécie de pás de gume afiado e cabo comprido para cortar a cabeça. O corpo era preso ao lado do navio, e a gordura retirada numa série de tiras em espiral. Cada tira era depois içada para bordo por meios de ganchos e roldanas suspensas. Retirada a gordura, a carcaça era abandonada, pois já não tinha qualquer valor. A cabeça era cortada em secções, que também eram içadas para bordo. A gordura era então cortada em pedaços mais pequenos, que eram reduzidos a tiras finas com facas próprias, e atiradas para dentro de caldeirões quentes.
Com os pés enfiados no sangue e na gordura até aos tornozelos, os marinheiros mexiam a gordura até esta derreter, transformando-se em óleo, e em seguida passavam o óleo para barris de 150l de madeira. Depois levavam os barris até ao porão, e despejavam-nos para enormes cascos, que levavam cada um até seis barris de óleo.
Uma tripulação eficiente cortava uma baleia em 3h30m. A seguir seguia-se um turno de 6h para cortar e derreter, obtendo-se cerca de 20 barris de óleo. Um cachalote de tamanho médio podia render 60 a 80 barris; um grande cerca de 100 barris.
Além do óleo que era usado como combustível para candeeiros, extraiam-se do cachalote, o esparmacete, uma substância branca retirada da cabeça que era transformada em velas e unguentos.
No entanto, o produto mais ambicionado, que por vezes se encontrava no intestino do cachalote, era um pedaço de fragante âmbar cinzento.
Os fabricantes de perfumes ansiavam tanto por essa substância, que um único barril podia render 40 000 dólares, quantia exorbitante na década de 1840, quando os comerciantes enriqueciam graças ao trabalho e perícia dos homens dos navios baleeiros.
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