Quando o desejo de morrer é maior que a vontade de viver
()
No documentário visto o que mais se destacou foi a solidão e isolamento associado a um contexto sociodemográfico e cultural. Nesta teia de relações e níveis contextuais encontramo-nos face a um triplo eixo de análise psicológica, sociológica e cultural, não no sentido de pontos de vista exteriores uns aos outros e sucessivamente acrescentados, mas de um eixo interdependente de inscrição do gesto suicida.
A maioria das pessoas entrevistadas vivia sozinha, os familiares mudaram-se para as cidades ou emigraram, as aldeias ficaram vazias, não havia a mesma alegria do antes, as pessoas envelheceram e a vontade de viver diminui a cada dia que passa, as pessoas sentem-se como estando à beira do precípicio e ninguém está lá para os salvar.
Neste contexto todo, é de realçar que não é um único factor que “incentiva” alguém a optar pela morte em oposição à vida, é antes um conjunto de factores que se acumulam,
“ A procura de uma verdadeira etiologia do suícidio deve ser, não a de uma causa imediata, mas a da génese de um estado “pré-suicidário” em que diferentes factores se podem tomar motivos e o suicídio surgir como a única solução”, tal como refere Davidson e M. Choquet.
Outra perspectiva assenta sobretudo na ambivalência da tentativa de suicídio- tanto se me dá viver como morrer-, sendo para Tengel (1964), a expressão mais próxima do verdadeiro sentido subjacente ao gesto suicida, mais do que uma determinação clara e inequívoca de pôr termo à vida.
Numa análise sociológica profunda devemo-nos focar sobretudo no porquê? Quais as condições de vida, a estrutura do “background” social, sistema familiar, situação social, embora não esquecendo a estrutura da personalidade suicida.
Ora, a grande maioria dos suicidas/ potencias sucidas vivem sozinhos,em zonas desertificadas, em péssimas condições e de estratos socias baixos, em aldeias com meia dúzia de habitantes, a família está longe,não têm apoio familiar, e é essa falta de apoio e solidão que leva muitos idosos ao suicídio, não deixando de destacar doenças do foro psicológico ou mesmo doenças físicas que os leve a preferir o fim do sofrimento. Mas o que é mais de destacar é exactamente a solidão e isolamento. A própria solidão e o facto de ver a família afastada sem lhes dar a miníma atenção afecta-os de uma forma psicológica negativa, e em caso de doença física faz com que a esperança duma cura diminua ou mesmo a força de continuar a lutar contra a doença. a própria baixa religiosidade desta zona do país também pode explicar a elevada taxa de suicídio no Alentejo. Ainda hoje os especialistas não conseguem perceber na plenitude o que leva alguém de idade já avançada e perto do fim a ter tanta pressa. Mas paredes-meias com o Baixo Alentejo está uma Andaluzia com uma das mais baixas taxas de suicídio da Europa que pode ser uma ajuda preciosa para a compreensão do problema. Do lado de cá,o canto alentejano arrasta-se pela planície, numa espécie de prece melancólica,com tons escuros. Do outro lado da raia,a exuberância das sevilhanas,cheias de cor,que traduzem uma invejável alegria de viver.
Resumos Relacionados
- Suicídio: Um Estudo Em Sociologia
- Suicidio
- Ajudando Um Amigo Com Depressão
- Risco De Suicidio
- Suicídio
|
|