Corrida desenfreada atrás de pedras luzídias
(Dr. Adérito Tavares)
Um cabo partiu-se, deixando cair um balde de cascalho pelo enorme buraco. O arame atingiu o braço de um mineiro, fazendo-lhe um corte com vários centímetros de comprimento. No fundo da entrada da mina, os homens corriam, tentando afastar-se, mas um deles não foi suficientemente rápido e o balde atingiu-o na cabeça, fazendo-o cair estatelado na lama.
Dada a inexistência de quaisquer normas de segurança, havia centenas de acidentes como este na mina de diamantes de Kimberley, na África do Sul. No auge das escavações, em 1873, 30 000 homens trabalhavam do nascer ao pôr do sol em busca de diamantes.
Os diamantes tinham sido descobertos em Colesberg Kopja, no Norte da Província do Cabo, na Àfrica do Sul, dois anos antes.
Em 1873, esta pequena colina viria a tornar-se na maior cova artificial do Mundo, à medida que os prospectores invadiam a região para demarcar concessões. Uma cidade “cogumelo” com mais de 50 000 habitantes nasceu no local, sendo baptizada de Kimberley, nome do secretário colonial da época.
As autoridades do Estado livre de Orange, dividiram a mina em lotes de 9,5m2, num sistema de grelha, com 14 trilhos no sentido norte-sul a atravessar o local.
Cada lote era comprado por um “digger”, que em geral financiava a sua exploração vendendo parte do seu lote.
Inicialmente foram atribuídos 470 lotes que se transformaram em 1600 proprietários de concessões a trabalhar. Como a mina estava cada vez mais superlotada, as mesas de separação e as peneiras tiveram de ser levadas para o exterior.
Os “diggers” empregavam operários para escavar a terra. Os trabalhadores negros recebiam entre 10 e30 xelins por semana, os brancos, um salário diário de 2 libras.
Calcula-se que metade dos diamantes encontrados em Kimberley tenha sido levada ilegalmente do local. Para esconder as gemas, havia quem as engolisse, ou as metesse dentro de dentes cariados, em feridas auto-infligidas ou no sabugo das unhas dos pés. Alguns operários davam os diamantes a comer aos cães, e depois matavam os animais no exterior da mina para reaver as pedras.
O rendimento das concessões da mina podia ser do bom para o muito mau. Á medida que as escavações prosseguiam alguns mineiros abandonavam ou vendiam os seus lotes.
Muitas destas áreas deixadas por trabalhar tornavam-se instáveis e começavam a desmoronar sobre os terrenos contíguos.
Em Março de 1875, chuvas torrenciais provocaram grandes inundações e a mina ruiu num imenso buraco de 200m de profundidade, deixando a maior parte dos lotes inoperante.
Em 1880, o custo e as dificuldades da exploração eram já excessivas para os pesquisadores individuais, pelo que se começaram a formar pequenas Companhias, que se expandiram até 1889, altura em que a De Beers Company adquiriu todas as concessões, tornando-se assim a única proprietária da mina Kimberley.
A mina acabou por ser abandonada em 1914, quando deflagrou a Primeira Guerra Mundial, o que provocou uma queda brusca de preços no mercado internacional de diamantes.
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