A Queda - As Últimas Horas de Hitler
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Em 2004, "A Queda", gerou inúmeras polêmicas ao retratar o ditador nazista, Adolf Hitler, com as angústias, convicções, ternura e despotismo próprios do ser humano. Alicerçado por dois textos relevantes sobre o período, o livro “No Bunker de Hitler” do jornalista e biógrafo alemão, Joachim Fest, e a obra “Até o Fim” da ex-secretária do Führer, Traudl Junge, em parceria com a jornalista Melissa Müller. O diretor Oliver Hirschbiegel causou impacto por penetrar no interior de um mundo de adoração e temor a uma ideologia que definiu a barbárie no século XX.
Em 1942, Traudl é selecionada, após uma entrevista com o dirigente do Reich, para o cargo de secretária. Passam-se os anos; 1945, o exército alemão sofre com as investidas soviéticas. Hitler mergulha em um processo de delírio e ufanismo dos valores germânicos. Seus generais preocupam-se com o avanço das forças comunistas de Moscou e começam a contestar as ordens do ditador. Taudl vê o mundo disciplinado e poderoso do Reich sofrer abalos cada vez mais profundos até atingir a ruína completa com a invasão de Berlim pela URSS.
"A Queda – As Últimas Horas de Hitler" é um filme denso e que exibe cenas que nos provocam uma pergunta crucial e dilacerante, “Como pôde uma Nação deixar-se conduzir a extremos tão bárbaros?”, “Qual força argumentativa e rigidez de ações fomentam tal apego a devoção cega e ao auto-sacrifício?” A insensatez coletiva produziu o suicídio em massa após a derrocada do regime. A certeza do triunfo e das ideias divulgadas pelo Führer sustentavam a confiança dos alemães nos combates extenuantes em defesa do solo germânico. Porém, a superioridade bélica do adversário e a perda gradativa de pontos estratégicos fizeram com que muitos generais evadissem de Berlim e outros seguissem o líder no gesto capital do suicídio. Hitler (numa impressionante caracterização de Bruno Ganz) mergulha em um processo de degeneração psicológica, e com a morte dele e de Eva Braun (sua prima e amante), a organização nazista se desestrutura até a derrocada definitiva com as prisões, julgamentos e condenações (principalmente em Nuremberg).
O filme de Hirschbiegel mostra como a cegueira coletiva gera monstros, e torna aceitável uma ideologia pautada na violência, no discurso de superioridade e na racionalização extrema dos atos humanos – na razão instrumental como delinearam os pensadores da Escola de Frankfurt, especialmente T.W. Adorno e Max Horkheimer. Traudl é uma jovem jogada no “olho do furacão”, defende seu líder, mas sem ter conhecido sua face mais cruel, aquela que o regime impunha aos considerados “inferiores”. No fim, Traudl, a secretária leal, é apenas mais uma sobrevivente que escapou da morte, do ódio, da ideia totalitária da “raça perfeita”. Uma sobrevivente que compactou com a “beleza e retórica do discurso”, no entanto não detectou a perfidiosidade dos atos, os campos de extermínio, a loucura impregnada na composição da trajetória nazista pela Europa de meados do século XX. Tudo não passou de logro e de crueldade inclassificável. Porém o percurso se baseou na lógica, na racionalização que procurou usufruir da técnica para impor uma dominação sem falhas e sem precedentes. Nos dizeres do sociólogo polonês Zygmunt Bauman em "Modernidade e Holocausto", “A razão dos meios chega ao auge triunfante quando os fins desaparecem pouco a pouco na areia movediça da solução de problemas”. "A Queda" é um filme que não deixa de ter um caráter de registro e um forte significado de alerta.
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