David Ricardo
(Mário Murteira)
Ricardo desenvolve um raciocínio formal e especulativo, e a sua tendência de pensamento influenciou grande parte evolução da ciência económica.No modelo económico de Ricardo, o autor pretende estudar como é determinada a divisão do produto social entre as três classes intervenientes (proprietários de terras, rendeiros e trabalhadores), sendo que esta depende do salário mínimo de subsistência e da existência de rendimentos decrescentes na agricultura.Embora, como reconheceu Malthus, o salário mínimo possa crescer com o tempo, Ricardo defende que o rendimento dos trabalhadores tende sempre para este salário, porque havendo flutuações, elas tendem no longo prazo a atenuar-se. Se o salário de subsistência aumentar, dá-se uma maior oferta de trabalho, o que faz descer o salário (em função da lei da oferta e da procura). No caso contrário, o salário sobe. Daí se conclui que, no longo prazo, os trabalhadores ganharão sempre ao nível do salário de subsistência. No que respeita à lei dos rendimentos decrescentes, o autor explica como se dará a produtividade: se se der um aumento na procura de alimentos, necessário devido à expansão demográfica, isto provocará uma expansão da agricultura. Esta expansão pode ser realizada pela extensificação ou intensificação das culturas. No primeiro caso são aproveitadas terras menos férteis, até então não usadas, enquanto que no segundo caso, são usados maior mão de obra e instrumentos, de forma a fazer melhor uso da mesma terra. Tanto numa situação como na outra, existe maior produção, mas não em proporção relativamente às modificações realizadas; portanto existe menor produtividade. Se a produção aumenta, aumenta também o custo marginal (lei dos rendimentos decrescentes). Assim, o empresário irá aumentar a produção até que o rendimento marginal obtido seja superior, ou igual, ao custo marginal, o que, segundo Ricardo, irá beneficiar o proprietário, que ficará com o ganho adicional (devido ao aproveitamento da concorrência entre os rendeiros). Ricardo tenta exprimir que “a classe dos proprietários rurais constitui um entrave à expansão da economia, e (…) a repartição do rendimento tenderá a desequilibrar-se cada vez mais a favor das rendas” (pág. 87). Face a esta problemática, o autor apresenta duas soluções: ou através do progresso técnico, de forma a aumentar a produtividade e anular a lei dos rendimentos decrescentes, ou através do comércio internacional, de forma a obter a produção que a agricultura interna, pela sua saturação, não consegue. O modelo de Ricardo pode ser visto como a análise dos conflitos entre a classe dos proprietários rurais e a classe industrial em desenvolvimento, vigentes na Grã-Bretanha da época, e ,por outro lado, como uma teorização geral, introduzindo elementos da teorização de Marx e de teóricos posteriores.Por fim, o autor preconiza a teoria do valor-trabalho, a qual contempla a análise do excedente existente após se assegurar o salário mínimo para a reprodução da força de trabalho. No entanto, esse lucro, que precede a acumulação de capital e consequente desenvolvimento económico, provocará uma incompatibilidade entre os detentores dos meios de produção e a força de trabalho, bem como a regressão do próprio crescimento económico. O modelo de Ricardo, cria, assim, um conjunto de problemáticas, estas posteriormente abordadas por vários autores.
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