Vencidos pela distância e pelo Inverno
(Dr. Adérito Tavares)
“Como resultado dos meus movimentos, 400 000 homens encontrar-se-ão num único lugar; assim é de esperar que não encontremos nada no país, pelo que teremos de levar tudo connosco”. Assim escreveu Bonaparte, imperador dos Franceses, antes de invadir a Rússia. A 24 de Junho de 1812, após meses de planeamento, o corpo principal do seu Grande Exército, atravessou o rio Niémen, que fazia fronteira entre o Grão Ducado de Varsóvia (estado- fantoche francês da Polónia) e a Rússia. As relações de Napoleão com o czar Alexandre I da Rússia já tinham sido boas no passado, mas tinham-se deteriorado depois de Alexandre ter quebrado a sua promessa de boicotar a entrada das mercadorias britânicas na Europa.
Ao preparar a invasão, a primeira tarefa do imperador foi reunir uma força suficiente para enfrentar 420 000 homens do exército Russo. As tropas de Napoleão, ultrapassavam 600 000 homens, mas á Rússia só chegaram 450 000, visto os restantes ficarem a assegurar a defesa da base francesa na Polónia.
Napoleão sabia que o seu imenso exército pereceria se não dispusesse de mantimentos suficientes. Para resolver o problema, o imperador organizou depósitos na Polónia e no Leste da Prússia, onde foram armazenados munições, armas, vestuário e alimentos para as tropas. A organização do transporte do exército duplicou para 26 batalhões, com vista á invasão. Ao todo foram usados 10 500 carroças, na sua maioria veículos puxados por quatro cavalos, capazes de puxar 1500kg.
Quando o Grande Exército invadiu o país, os russos recuaram, queimando a terra á medida que fugiam, obrigando assim os franceses a suportar um calor intenso alternando com chuvas torrenciais. Para agravar a situação, as chuvas transformaram as estradas da Rússia Ocidental em pântanos, por onde as carroças mais pesadas não podiam passar. Em meados de Agosto, Napoleão alcançou Smolensko, 450km a oeste de Moscovo. Após um combate violento, expulsou os russos da cidade e mandou erguer um depósito de provisões. A 7 de Setembro, enfrentou os russos em Borodino, 112km a oeste de Moscovo. Foi um conflito sangrento para ambos os lados, cerca de 50 000 franceses, incluindo 47 generais, foram mortos ou feridos e pelo menos 44 000 russos foram mortos, feridos ou capturados. Os russos retiraram e Napoleão entrou em Moscovo uma semana mais tarde. Quase toda a população tinha fugido para leste pois o imenso incêndio ateado pelos russos viria a consumir a maior parte da cidade.
Durante um mês, Napoleão permaneceu no Kremlin, o palácio dos czares, que escapara das chamas, esperando que Alexandre, refugiado em Sampetersburgo, a capital russa, pedisse a paz. Isso não aconteceu, e a 18 de Outubro, preocupado com as notícias de agitação crescente em França, Napoleão decidiu retirar.
Ao chegar a Smolensko, a 9 de Novembro, com o Inverno já a chegar, Napoleão deu conta que quase todos os alimentos do depósito local tinham sido consumidos pela força que deixara a guarnecê-lo.
O frio intenso e a fome levavam os homens a desfalecer durante a marcha, morrendo gelados onde caíam. Acossados pelos russos, os franceses marcharam em direcção a Borisov, para lá do rio Berezina.
Entre 25 e 29 de Novembro, atravessaram o rio através de pontes flutuantes instáveis, sob o fogo intenso de artilharia russa. Uma das pontes caiu, e cerca de 50 000 homens morreram, afogados, esmagados na fuga ou massacrados pelos russos.
Os sobreviventes arrastaram-se até chegarem mais uma vez ao Niémen, mas por essa altura eram uns escassos 30 000 homens magros e cansados que restavam do que for em tempos o orgulhoso e glorioso Grande Exército.
Resumos Relacionados
- Formação Em Quadrado
- O Filho Da Revolução
- 2ª Fase Do Governo Napoleônico
- 3ª Fase Do Período Napoleônico – Governo Dos Cem Dias
- Napoleão Bonaparte, 3ª Parte
|
|