Alcoolismo
(Neus Fontanals; Mercè Balcells-Oliveró; Antoni Solé)
O Alcoolismo é uma doença psiquiátrica progressiva, crónica e recidivante, incluída nas classificações diagnósticas do DSM-IV e CID-10. O álcool é uma droga com efeitos múltiplos e complexos. A sua etiopategenia está ainda por determinar, mas a neurobiologia tem realizado estudos no que toca a alterações no SNC, factores externos e internos relacionados com a adição e, sobretudo, alterações endógenas e exógenas do sistema opióide. Existem vários questionários e marcadores biológicos para a detecção do abuso precoce do álcool. O tratamento é realizado por desintoxicação e desabituação, processos que se cruzam e cujo início pode coincidir.A desintoxicação é a fase inicial do tratamento ou prevenção da síndrome de abstinência e pode ter duração de 1 a 2 semanas. Pode ser uma urgência médica ou um procedimento programado. Em alguns casos a utilização de fármacos não se revela necessária, noutras estes são administrados como forma de prevenção da síndrome de abstinência (ex. benzodiazepinas); a medicação a utilizar dependerá dos antecedentes e situação actual do paciente.A desabituação é o processo de aprendizagem por que passa o paciente quando vive sem a substância e tem uma duração aproximada de 5 anos. Envolve o tratamento de patologias psiquiátricas associadas ao alcoolismo (ex. depressão) e tratamento por fármacos, os quais têm revelado cada vez mais eficácia no prognóstico da doença.O tratamento farmacológico na desabituação alcoólica é realizado através de: 1. Antidipsotrópicos ou aversivos (disulfiram e cianamida) – são os mais usados e a sua eficácia melhora com a supervisão por parte de alguém da rede social do paciente quando associados a outros programas de tratamento psico-social ou farmacológico; 2. Anti-craving - diminuem ou anulam o desejo de consumir. Compreendem os Gabaérgicos e de acção sobre o glutamato e receptores NMDA (GHB e acamprosato) que actuam sobre a excitabilidade neuronal e sobre os efeitos depressores da substância, e os Antagonistas opiáceos (naltrexona) que alteram a libertação de dopamina; 3. Dopaminérgicos (Bromocriptina e antagonistas dopaminérgicos) – actuam sobre os efeitos que o álcool tem ao nível da neurotransmissão domaminérgica, libertação da dopamina e sensibilização dos receptores; 4. Serotoninérgicos (ISRS e Buspirona) - actuam na disfunção da neurotransmissão serotoninérgica.O tratamento psicológico na desabituação alcoólica deverá ter objectivos realistas e progressivos; deve ser diferenciado um primeiro tratamento do tratamento de uma recaída. O primeiro contacto com o indivíduo revela-se de suma importância para o desenrolar do tratamento; nele são abordadas a história de vida e de consumo do paciente; deve ser-lhe comunicado que o sucesso do tratamento depende da abstinência mas também da capacidade de enfrentar as recaídas. É essencial o estabelecimento de uma relação de confiança técnico-paciente para que se determine um plano de acção; o terapeuta terá de ter uma postura de respeito mas também de firmeza. É importante ter em conta a rede de suporte social do indivíduo e incluí-la, quando possível no processo de tratamento (a dinâmica familiar pode ser conhecida através de entrevistas familiares, das quais o paciente deve estar informado e nas quais pode participar). Tendo em conta as circunstâncias em que se encontra o indivíduo pode optar-se por internamento ou tratamento domiciliário. A entrevista motivacional terá que ter em conta as fases por que passa o alcoólico antes de se decidir ao tratamento (pré-contemplação, contemplação, acção e manutenção) e deve haver uma estratégia terapêutica adaptada a cada paciente. É essencial que este se encontre motivado. A atitude do terapeuta deve ser de empatia, escuta reflexiva, de valorização das condutas positivas e de confiança na capacidade de decisão do indivíduo; é útil a realização de perguntas abertas. Os objectivos de ambas as partes devem aproximar-se. Durante o processo de desabituação o utente pode ser integrado em terapia de grupo que o ajudará a ultrapassar a negação da doença e a motivá-lo à abstinência; esta decisão requer por parte do técnico uma avaliação cuidada da situação do indivíduo e sua motivação. A equipa que trabalhe com doentes alcoólicos deve ser multidisciplinar; deve ser supervisionada por um profissional alheio ao grupo de trabalho e que não esteja sujeito à pressão assistencial. Os técnicos deverão ter uma formação rigorosa e contínua.
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