Espaço na Idade Média
(Carlos Mota)
Até ao século XIII, a concepção de espaço dividia-se em torno da articulação do espaço cultivado e do espaço inculto.
Os campos cultivados, donde provinha a alimentação e a subsistência, situavam-se geralmente ao longo das planícies fluviais, opondo-se aos matagais e bosques, lugar onde vivem os animais ferozes e onde se situa o cenário da ocorrência de histórias maravilhosas, fantásticas e demoníacas em contradição ao espaço aldeão sacralizado pela existência das igrejas paroquiais.
È no entanto um espaço de desafio, de conquista e conversão. Os santuários isolados na floresta e nos montes, as terras e fortalezas que o vigiam e protegem, as caçadas pelas quais os nobres enfrentam os perigos que o dominam, os caminhos e as pontes que desenham as vias por onde circulam peregrinos e cavaleiros acompanham os arroteamentos e a expansão dos terrenos cultivados, imprescindíveis á sobrevivência de uma sociedade em surto demográfico, ao mesmo tempo que a forma de campos de fertilidade edénica e de cidades opulentas estimula o avanço para o sul islâmico, sob a promessa de uma utópica repartição de riqueza e de neutralização definitiva dos estragos da guerra, sempre latente, dada a existência de um espaço profanado ocupado pelos infiéis.
A partir do século XIII, com o final da Reconquista Portuguesa, tende a sobrepor-se a esta concepção uma outra que se articula no binómio espaço rural e espaço urbano.
Aos campos, ligados a uma economia rural, opõe-se a vila e a cidade, que limitam pelo termo o espaço abastecedor sujeito á sua influência, e na qual se concentram as actividades artesanais, administrativas e comerciais, que delas fazem um espaço de comunicação ligado ás principais redes de tráfico regional, peninsular, mediterrânico e atlântico.
Com a crise do século XIV, o espaço urbano acentuou-se com os maus anos agrícolas, as fomes e as pestes.
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