Resumo de Esse obscuro objeto do desejo -

Filmado pelo cineasta espanhol Luis Buñuel, em 1977, em uma co-produção França-Espanha, “Cet obscur objet du désir” (título original), foi baseado em livro escrito por Pierre Louÿs, "La Femme et le Pantin" (1898). E guarda mais mistérios do que se possa imaginar. Há quem o tenha visto várias vezes e, mesmo assim, não o tenha entendido. Então, me proponho a uma leitura, ao menos.

Conchita, em espanhol, é o apelido para Concepción - e na gíria se refere à vagina; uma pequena concha, que pode levar à concepção. Por trás do apelido e do nome próprio há duas personagens representadas pelas atrizes Carole Bouquet e Ângela Molina. Uma muito diferente da outra, apesar da estatura, do comprimento e da cor dos cabelos. Só isso. Uma é adolescente, muito ligada à mãe, introvertida, trabalhadora. A outra, extrovertida, artista, solta e livre, é uma mulher capaz de dançar nua para turistas orientais. Ambas querem o mesmo: a "concepção" do amor - que está para além da “conchita” do sexo.

No entanto, as duas são uma só para Mathieu (Fernando Rey), o homem que se pensa apaixonado por Conchita, mas que não sabe se entregar. Ele não diferencia uma da outra. Ou seja, quer apenas uma vagina, pouco se importanto com o que é e deseja uma mulher. Conchita promete sexo, mas antes quer amor, vida, concepção. Mathieu se consome na paixão que o leva à quase morte.

E assim se desenrola a trama minada de idas, sumiços e vindas de Conchita, dando a impressão de que engana e despreza Mathieu, um homem bem mais velho do que ela. Mathieu alimenta amor e ódio, jura que nunca mais e... é mau, porque pensa mal. Uma cigana lê sua mão rapidamente, na rua, e o avisa que há uma mulher que o ama. E completa: e você é um homem muito rico, mas é mau. Ele dá uns trocados e continua a caminhada rindo indiferença.

Em algum momento, comenta com seu mordomo que os dois se conhecem há décadas, e ele, Mathieu, sabe nada do empregado. Na verdade, Mathieu sabe nada dos outros, talvez nem de si mesmo. E Conchita, para ser vista, conhecida por Mathieu, apronta muito. Chega a fazer sexo com um amigo na frente de Mathieu, que nunca a teve na cama. A ira chega ao extremo e Mathieu surra violentamente Conchita e depois a agride jogando um balde de água fria.

A reação de vingança de Conchita, que devolve o balde de água fria sobre Mathieu, leva a outra hipótese: a surra quebra a sua "concha" narcísica e ela finalmente entrega-se à vida e ao amor como Concepción. Nesse caso, Mathieu, mesmo com seu narcisismo a flor da pele, deu sua importante contribuição ao nascimento da mulher Concepción.

Ela volta, tenta se explicar, os dois se abraçam, dando a impressão de que ficarão juntos, apesar de... O filme acaba, deixando em muitos um ponto de interrogação. É preciso mesmo ir além de Conchita para entender Concepción. E talvez seja neste mesmo exercício que Mathieu se reconheça e tome consciência de si. Objetivamente, o obscuro objeto do desejo de Mathieu não era o amor. E por não saber, talvez, tenha sofrido para aprender tanto.

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