Obsessão
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O roteiro do filme “Obsessão” (Loverboy, EUA, 2004), dirigido por Kevin Bacon e baseado em livro de Victoria Redel, traz à cena Emily (Kyra Sedgwick), uma mãe obcecada pelo filho Paul (Dominic Scott Kay), a quem seduz com um mundo paralelo de magia, superproteção e aprisionamento. O aprendizado de Emily no papel de mãe solteira e exclusivista foi iniciado em sua infância, pelos pais apaixonados (Kevin Bacon e Marisa Tomei), que não permitiam a entrada de mais alguém na relação. A doença terminal do pai fez com que o casal cometesse suicídio, enfatizando a desimportância da filha na vida dos dois.
Para sentir-se viva e reconhecida, Emily mergulhou no conhecimento cultivado à margem do aprendizado escolar. Adulta, procurou fertilização “in vitro” para ter um filho vinculado unicamente a si. Após cinco tentativas, a experiência fracassou, e Emily passou ao plano seguinte: fazer sexo com vários homens a fim de que seu filho tivesse as melhores características de cada um, reforçando sua idéia de gerar alguém genial, diferente, mais do que todos os demais. “Quem tem vários pais, tem nenhum”, diz. Engravida, mas aborta. Conhece um executivo, com quem faz sexo apenas uma vez e engravida. O homem, casado, some. E ela não o procura mais.
Grande parte do filme explica Emily por flash backs. Mas, não justifica a escolha da herdeira milionária, eterna criança que se exclui do universo adulto. Paul cresce e aos seis anos descobre que o mundo não é feito dos braços e beijos da mãe, nem da casa nem do acampamento improvisado no jardim. Quer sair da gaiola, ir pra escola. A mãe resiste, mas Paul consegue. A doença obsessiva da mãe vem à tona na forma de inquietação, angústia (temor pela perda do filho para o mundo), tentativas desesperadas de controle, inclusive imputando ao filho doenças inexistentes para explicar à escola o porquê de suas faltas às aulas. Emily é questionada pela direção do colégio e pela professora de Paul, que ele muito estima abertamente e motivo de extrema irritação da mãe. Emily diminui os afetos da professora e superestima seu papel que deu tanto conhecimento e sapiência a Paul.
Em meio à crise trazida pelo filho, Emily recorda sua infância abandonada e evidencia (não para si mesma) que nem um ou outro tipo de criação/educação dos filhos garante a permanência da família idealizada. Ela sofreu perdas irreparáveis, primeiro por parte de seus pais ainda vivos, depois com o suicídio deles e, em paralelo, o abandono da única pessoa que a olhava de verdade, a Sra. Harker (Sandra Bullock), sua vizinha que foi embora sem dizer adeus. Interessante que todas as personagens próximas a Emily seguem o mesmo roteiro de dependência psíquica, de aprisionamento ao sentimento infantil de onipotência. O extremo apego da Sra. Harker era em relação a um dos filhos que, após tomar veneno, passou a vegetar. Era o filho predileto e rodeado de atenções, preso a uma cadeira de rodas e à idiotia, enquanto o outro, são e independente, era ignorado pela mãe.
Emily tem a chance (inconsciente) de interditar sua relação com Paul, antes mesmo da separação promovida pela escola. Numa viagem à praia, conhece Mark (Matt Dillon), que se interessa por ela. Mark gosta de Paul e saem juntos para pescar, sem Emily - primeira mostra de desespero da mãe, que se sente abandonada. Emily tenta conquistar Mark, mas este percebe o vínculo doentio entre mãe e filho, no momento em que Paul tenta fugir do sufocamento causado por Emily, e para isso quebra o vidro da porta de saída da casa alugada, correndo risco de morte. O vínculo doente se esfacela em um desvínculo derradeiro, quando Emily planeja seu suicídio e o homicídio do filho.
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