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Os Fuzis
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Estrelado por Nélson Xavier e Maria Gladys, “Os Fuzis” de Ruy Guerra, filme de 1964, transcorre no Nordeste do ano de 1963. Nélson Xavier interpreta Mário, soldado de um grupo destacado para se embrenhar no árido sertão com a missão de vigiar o carregamento de caminhões com provisões do governo, em um terra que imperam a fome, a miséria, o calor extenuante e a religião. Na cidadezinha do interior (onde está armazém que necessita de proteção para que os caminhões não sejam saqueados pelos famintos) Mário encontra a paixão na figura frágil, mas perceptiva de uma moça (Maria Gladys) que é o espelho de um povo resignado em suas angústias e carente de perspectiva. Além disso, reencontra o caminhoneiro Gaúcho (Átila Iório), um antigo companheiro de armas.
Durante a espera do carregamento, os soldados entendiados “brincam” de disparar os fuzis a esmo. Contudo, a brincadeira causa uma tragédia: um morador é alvejado involuntariamente. A morte acidental causa revolta, no entanto é uma revolta oca, prisioneira do mesmo abatimento que faz a fome ser ponto pacífico do cotidiano. Ao assistir à passividade popular, Gaúcho, homem debochado e aparentemente indiferente, manifesta sua indignação roubando o fuzil de um dos soldados, e tenta parar os caminhões que conduzem para longe a esperança do povo. Atitude que traz consigo o protesto revelador da dignidade, do arrojo e da consequência do desafio à autoridade. A morte na luta do exército de um homem só contra a representação do poder público (nas peles dos soldados) é algo certeira, brutalmente assimilada.
Ruy Guerra, vencedor do Urso de Prata no festival de Berlim de 1964, apresenta um sertão de desesperados, porém é um desespero que não reverbera. Assistimos pais tentando vender a filha para aplacar os fustigos da miséria, a religiosidade extremada a ponto de se santificar um boi, o poder público que deveria servir ao povo prestando auxílio a si mesmo, negando o alimento aos famintos moradores do local e a impunidade num assassinato que ficará sem responsáveis. O filme, em sua narrativa direta, denunciadora, pode ser comparada ao cinema neorrealista. É uma produção que enfoca os desmandos e os absurdos de um país onde o capital prevalece sobre a mínima subsistência dos homens e mulheres. A esperança e a compreensão que o povo exige em silêncio transfere-se do campo político  para a religião. Daí o culto ao boi santo, sacralizado por fazer milagres, mesmo que o desejo se mostre desvalido e a preze não se realize. O boi é a encarnação do Boi Ápis, da antiga religião egípcia; santo, adorado até o momento de seu sacrifício. O boi do Nordeste permanece santo até a chegada da repentina morte, então seu corpo sacralizado é profanado para sua carne servir de alimento para o povo faminto.
“Os Fuzis” projeta um olhar pungente sobre a miséria e os descaminhos que perpetuam essa pobreza dolorida, mas suportada em nome do silêncio. Letargia que torna o ser humano refém de sua própria inabilidade em proferir suas dores. No fim, o infortúnio do boi é apenas um paliativo para a fome diária, mas se fixa como um como uma imagem resplandecente de uma população maltratada, incapaz de enfrentar os fuzis e saquear um caminhão lotada de alimentos, todavia ágil para retalhar um boi outrora milagroso. A ordem é restaurada num movimento cíclico de miséria, poder e ilusões, pois a fome temporariamente saciada persistirá.



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