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A Historicidade da Filosofia
(Desidério Murcho)

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 A historicidade da filosofia não é a idéia de que os problemas da filosofia surgem nas obras dos filósofos do passado. Os problemas da filosofia surgem naturalmente quando qualquer pessoa se põe a pensar em alguns a pensar em alguns aspectos da realidade. Não quer dizer nem que a filosofia não é uma disciplina viva, que surge sempre que nos pomos a pensar, nem quer dizer que a filosofia é uma coisa só do passado. Não é também a idéia de que o trabalho que nos resta fazer hoje é meramente compreender, comentar e analisar as obras dos filósofos do passado. A filosofia não é o mesmo do que a história da filosofia, nem o mesmo do que a história das idéias. Ensinar filosofia não pode ser como ensinar história da pintura; tem de ser, ao invés, algo mais parecido ao ensino da pintura em si. O mesmo acontece no ensino da filosofia: o objetivo não é apenas compreender os grandes filósofos do passado e do presente, se bem que isso também seja feito; o objetivo é saber fazer filosofia.
A filosofia é, essencialmente, discussão de idéias e especulação. Em filosofia, é necessário relativamente pouco tempo para se chegar às fronteiras do conhecimento. Se não podemos começar a filosofar inicialmente fluentemente é apenas porque, apesar de não haver praticamente qualquer corpo estabelecido de teorias, há, no entanto, dois fatores importantes que o impedem. São estes fatores que fazem a diferença entre um domínio profissional da filosofia e uma atitude meramente amadora ou de senso comum perante a filosofia.
O primeiro fator é o saber-fazer envolvido na filosofia. Para se fazer filosofia é preciso dominar os instrumentos do ofício: saber discutir idéias, saber traçar distinções importantes, saber distinguir versões sutilmente diferentes de teorias análogas e, claro, compreender os problemas da filosofia. Sem estas competências fundamentais não é possível fazer filosofia competentemente; não é sequer possível fazer história da filosofia competentemente.
O segundo fator é que quando discutimos uma idéia filosófica verificamos muitas vezes que essa idéia tem uma história; houve outras pessoas que a defenderam ou atacaram. É por isso importante saber o que os grandes filósofos pensaram. Nada há de extraordinário nisto. Se está preocupado em saber se o relativismo é ou não aceitável, é uma boa idéia tentar saber o que as outras pessoas pensaram sobre isso. Quem leva a filosofia a sério tem estar informado sobre o que os outros filósofos – do passado e do presente – defendem, tem de conhecer os seus argumentos e as suas teorias, e tem de estar a par da discussão filosófica.
Resumindo: A necessidade de estudar os grandes filósofos do passado e do presente resulta a necessidade de não se perder tempo a defender o que já foi defendido e discutido, por um lado, e da necessidade de tentar ir um pouco mais longe da compreensão das coisas do que foram os nossos antepassados e os nossos colegas contemporâneos. O correto ensino da filosofia está entre dois extremos: - entre o extremo da a-historicidade de alguns manuais escolares e o extremo redutor em que a filosofia se transforma em mera história da filosofia. O que é difícil é dar ao estudante a idéia correta de que tem de compreender corretamente os filósofos do passado e do presente que lerão lecionados, mas que isso é um meio para pensar por si e para tomar uma posição fundamentada. Se não houver esforço para fazer isso, o ensino da filosofia transforma-se em fragmentos de temas modernos, sem qualquer referência a filósofos centrais do passado e do presente, ou em meras historietas das idéias filosóficas, sem que ao estudante seja dada a experiência de filosofar. E é precisamente esta experiência que urge reinvidar. E isso exige um equilíbrio entre os dois opostos redutores: o que reduz a filosofia à sua história e o que esquece a história da filosofia.



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