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Sapatos da Vergonha
(Linda O'Keeffe)

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  Os sapatos fetiche ocidentais e os minúsculos sapatos Lótus da China, apesar das culturas diferentes, transformam quem os usa  e aguçam o apetite sexual de quem  olha. Mas, enquanto os fetichistas ocidentais estão mais interessados em dominar, na China, a passividade, simbolizada pelos pés enfaixados, é a chave da felicidade erótica.A historiadora do calçado Mary Trasco resume estas diferenças fazendo notar que o calçado fetiche do Ocidente sempre foi "elegante, agressivo e com a aparência de uma arma branca", enquanto que o do Oriente "faz mais lembrar lingerie, com gáspeas de cetim e solas delicadamente bordadas".

Os amantes de sapatos existem já desde a antiguidade, mas o fetichismo só surgiria com o nome que tem hoje na Inglaterra do século XIX. A repressão e o puritanismo vitorianos geraram novos escapes para a expressão sexual. A campanha para esconder as pernas femininas debaixo de saias até ao chão e botas de cano foi tão eficaz que o simples vislumbre de um tornozelo de mulher era suficiente para causar excitação sexual. Os tornozelos femininos e, por extensão os sapatos e as botas, tornaram-se símbolos de outras partes do corpo mais escondidas, sendo  o desejo e as fantasias desencadeadas pelos pés ou pelo calçado algo absolutamente tabu. Por volta de 1850 floresceu em Londres um mercado clandestino de pornografia e sapatos com saltos de 15 cm.

Mais de um século depois, apesar da existência de revistas com nomes como High Heel Honeys (Miúdas de saltos altos), e Super Spikes (Super saltos), o fetichismo dos sapatos continua a ser um tabu, em parte devido à sua associação com o travestismo e o sadomasoquismo. O fetichista ocidental clássico prefere  sapatos pretos de verniz (que dão um ar "molhado"), longos saltos agulha (associados a mulheres sexualmente agressivas) ou botas altas de atacadores (usadas por  heroínas de banda desenhada cujos peitos em forma de torpedo saltam para fora de reduzidos fatos)Os saltos muito altos impedem os movimentos - uma forma de submissão feminina que há quem ache erótica - e a sua semelhança a um arma branca excita o homem passivo que sente enorme prazer em ser ameaçado.

Os fetichistas têm preferências particulares. Há sapatos com cadeados, tiras de couro e coleiras de picos para os tornozelos, que tanto sugerem subjugação como dominação e que apresentam o pé, de acordo com as palavras da historiadora de moda Anne Hollander, como um belo escravo. Em casos extremos a mulher é completamente dispensada e o fetichista prefere passar a noite de sábado a namorar um sapato de salto alto.

A restrição, a limitação, real ou ilusória, parece ser fundamental para que os sapatos fetiche tenham a capacidade de causar excitação sexual, qualquer que seja o contexto cultural. Mas enquanto a altura de um sapato é sinal de erotirmo no Ocidente, na China, o que é valorizado é o tamanho. Os pés minusculos já eram admirados pela sociedade chinesa muito antes de o enfaixamento dos pés ter adquirido os traços de um  fetichismo cultural. Segundo alguns historiadores da sociedade chinesa, no século X, as bailarinas exóticas da corte imperial usavam meias apertadas para que os seus pés parecessem mais pequenos. Este costume espalhou-se pelas classes altas até que o mais doloroso método de enfaixamento o acabaria por substituir e por se tornar um rito de passagem. Era através da astrologia que uma mãe de elevada condição social determinava a data apropriada para a iniciação gien lien da sua filha, que acontecia entre os 3 e os 8 anos de idade. Depois de lavar e tratar os pés da criança, quatro dos dedos eram curvados para trás e bem apertados com uma faixa enrolada à volta do pé (o dedo grande não era dobrado para que o pé, ao ser enfaixado tivesse o formato de meia lua).
Após cada banho, o pé, ao ser enfaixado, era sempre apertado um pouco mais e calçado com um sapato de um número abaixo. O que se esperava alcançar com este processo era uma raridade culturl: um "Lótus Dourado", um pé de 7,5 cm.

A partir dessa altura as ùnicas vezes que a rapariga veria os seus pés  seria quando eram lavados ou, mais tarde, se o marido desenrolasse as faixas durante os preliminares sexuais.

Apesar da sua aparência disforme, os pés de lótus eram considerados aparte mais erótica do corpo de uma mulher e os delicados sapatos ou botinas que os cobriam não eram menos deleitáveis aos olhos. Os maridos chineses sentiam um desejo respeitoso pelos minusculos sapatos lótus das suas esposas e apresentavam-nos por vezes num pequeno prato (que não conseguiam encher) para exibir o seu minúsculo tamanho. Uma mulher possuía normalmente va´rias centenas de pares destes sapatos, que variavam segundo a região e a moda, e passavam longas horas bordando-os com símbolos de fertilidade, longevidade, harmonia e união. Os sapatos usados na noite de núpcias apresentavam frequentemente explicitas cenas eróticas que serviam de instrução à  noiva virgem.

O enfaixamento dos pés decaiu em 1912, quando a China se tornou  república e tinha já desaparecido na maioria das provincias quando Mao o proibiu oficialmente em 1949. Praticado abertamente durante um milhar de anos, este ritual é hoje em dia considerado vergonhoso, tendo os sapatos lótus passado a reliquias coleccionáveis de um costume que os chineses querem esquecer.

No Ocidente onde o fetichismo sempre foi considerado subsversivo, uma mudança nas atitudes fez com que surgisse o fetichismo chique, tendo nas ultimas décadas integrado a alta-moda.



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