Os árcades
(Antonio Guerra)
Chamamos árcades aqueles autores que, em meados do século XVIII, mais exactamente em Março de 1756, em Lisboa, se reuniram numa academia poética a que deram o nome de Arcádia e colocaram e colocaram a sua inspiração sob a égide dos poetas clássicos gregos e romanos.
Os três poetas fundadores da Arcádia Lusitânia são Cruz da Silva, Esteves Negrão e Gomes de Carvalho.
Este movimento corresponde a um repúdio dos excessos do gongorismo, havendo nele, simultaneamente, um deseja de regra e contenção formal e uma aspiração a uma poesia que estivesse próxima da realidade do homem. Da fusão de ambos nascem textos em que se experimenta o verso em branco, sem rima, e em que os temas do quotidiano vão a par com divagações á maneira clássica.
Esta produção poética está ligada á renovação profunda da arte que os tempos exigiam, precedendo e preparando o pré-romantismo.
Correia Garção (1724-1772) é autor de alguma poesia do quotidiano e da peça teatral “Assembleia ou Partida”, onde se integra a “Cantata de Dido”, imitada de Virgílio. A Cruz da Silva pertence o “Hissope”, poema heróico-cómico sobre uma disputa entre o bispo e o deão da Sé de Évora, onde se faz a critica da mentalidade escolástica, da linguagem gongórica e do fausto exterior da classe nobre.
Pouco mais, deixaram os árcades que possamos ler hoje. Tiveram , porém, um interessante dissidente, Filinto Elísio, que a Inquisição perseguiu e que por isso se viu obrigado a emigrar para França.
Filinto Elísio, afirmava que só é bom em verso aquilo que for igualmente bom em prosa e que a arte do poeta reside no requinte do trabalho sobre a língua. Continuava assim, as ideias dominantes no seu tempo sobre o valor e significado da poesia. Nos seus versos, há uma nota justa, pela qual se dá conta das limitações da vida quotidiana e do apego á liberdade que o poeta vira ameaçada.
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