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O prazer do terror
(Henry Alfred Bugalho)

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As pessoas são atraídas para a Literatura por várias razões, desde a mais pura busca por divertimento até complexos anseios estéticos.
      Para leitores de gêneros leves, como romances românticos ou de aventura, a motivação é quase evidente: pomo-nos no lugar do mocinho, torcemos por ele e desejamos ser como ele.
      Já no gênero Terror, caminhamos por terreno arenoso. Certamente que a maioria dos leitores não gostaria de estar no lugar do protagonista — o qual muitas vezes é a vítima. Nem se pode esperar que o leitor se identifique com a causa do terror que, em essência, é o que nos repele. É nesta repulsa que podemos encontrar a atração pelo gênero. 
      Ele trabalha com os medos essenciais da Humanidade. Uma das características fundamentais do ser humano é o culto à morte. A compreensão dela e a necessidade de algum tipo de ritual funerário é um marco emblemático.
   A morte permanece um enigma. A despeito de todos os dogmas religiosos, de crenças pessoais, ou explicações biológicas, ela permanece um dos grandes enigmas da existência. O que há para além dela? Mero fim, ou início de outra vida? Não há uma explicação definitiva para esta questão. Exatamente por isto, somos atraídos por ela. 
      A religião aborda a morte pelo prisma da esperança. Em boa parte das religiões, a morte é uma passagem para outra existência, na qual usufruiremos de prazeres ou danação de acordo com nossos atos durante a vida. O Terror, por outro lado, apresenta a morte como o mistério que é. Nem tudo no gênero precisa de explicação — fantasmas, zumbis e vampiros se manifestam, superam e transcendem a morte, desafiando a racionalidade e os dogmas.
      Nem por isto a religião e o Terror são excludentes. Cada um apresenta sua perspectiva sobre o assunto — a religião buscando certezas, enquanto o Terror explora as incertezas.
      Para Bataille, a morte é o grande tabu, ao lado do sexo. Na verdade, tanto o sexo quanto a morte se aproximam, pois ambas representam o fim da individualidade. No gozo orgástico, perdemos a consciência de nós mesmos, despersonalizamo-nos, na morte, perdemos nossa identidade enquanto sujeitos, deixamos de ser. Não é por acaso que em vários filmes de Terror, o assassino persegue e executa quem pratica relações sexuais. Isto não é apenas um resquício da moral puritana, mas a íntima relação entre duas instâncias biológicas que se mesclam à dinâmica da vida.
      No Terror, buscamos a confrontação com aquilo que nos inquieta e nos repele: a morte violenta, sangue, vísceras, o desconhecido, as trevas e o sobrenatural. Deste confronto obtemos o prazer do medo controlado. Divertimo-nos com o que tememos porque sabemos que aquilo ocorre ao outro. Sentimos calafrios, temos pesadelos à noite, mas no íntimo nos contentamos por saber que não ocorreu conosco.
      No entanto, assim como se dá com o humor, o terrível se insere num contexto histórico e social. Os tabus duma civilização nem sempre correspondem aos tabus de outra. Numa sociedade onde o canibalismo é aceito, a cena dum ser humano devorando outro dificilmente causaria repulsa.
      O gênero Terror exige muito do escritor para a obtenção de um efeito satisfatório. Desta dificuldade origina-se o amplo espectro de subgêneros, que exploram desde a escatologia mais grotesca — o trash — até os que se enveredam em sutilezas psicológicas. O Terror ilumina os preconceitos, os valores e as crenças da comunidade na qual se origina.
 



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