Silêncio interior: refúgio de frustrações ou sinônimo de sabedoria?
(Luzia Aparecida Falcão Costa)
Por pertencermos a um tipo de sociedade que enfatiza o entretenimento, questões relacionadas diretamente com a subjetividade e bem-estar pessoal, como é o caso da serenidade, do comedimento, da preservação do “tempo livre”, parecem estar “fora de moda”. Presencia-se o movimento incessante de pessoas falando em seus celulares, ansiosos, apressados, preocupados em “malhar o corpo” e se esquecendo de se voltar para sua própria “liberdade interior”, ou seja, para o desligamento total dos estereótipos que a sociedade de consumo, a qualquer modo, tenta impor a todos, incondicionalmente. Se nos dispusermos a observar atentamente as formas comportamentais apresentadas, podemos concluir que a grande maioria dos indivíduos analisados apresenta um mal comum: a imbecilização coletiva, devido à abdicação da autenticidade. Por outro lado, é possível também notar que, aqueles que tentam e lutam para não ficar “enquadrados” em tais parâmetros ilusórios, normalmente tendem a demonstrar certa insegurança com relação à aceitação dos que os rodeiam, de não serem aprovados e amados como realmente tanto anseiam. Como decorrência, sentimentos negativos como a desconfiança e o medo de tudo e de todos surgem e trazem consigo a desestabilização interna, fonte primária e inicial do que costumamos denominar de recalques e frustrações. Tais sentimentos trazem consigo ainda maiores agravantes, como os temidos processos de alienação de si mesmo, que não podem ser confundidos com o que, beneficamente, é buscado por outras pessoas através do exercício e prática do silêncio interior. Este “recolhimento interno” que muitos buscam e poucos conseguem incorporar para suas vidas, digamos assim, relaciona-se diretamente com o saber ouvir e selecionar apenas o que é apropriado falar (que seja logicamente embasado), permitindo que permaneçam em estado de quietude e observação serena, mesmo estando inseridos em um ambiente em que impere o barulho e o turbilhão provocado pela agitação das pessoas. Essa forma de bem viver, a bem da verdade, muito tem a ver com a denominada postura ética da neutralidade, que faz com que o indivíduo não se envolva quando não é pedida sua opinião, não faça julgamentos precipitados e que, antes de tudo, não se impaciente frente às imensas imbecilidades que, normalmente, são cometidas por alguém em particular ou pela grande massa da população. Somente seres humanos que já descobriram que a resposta para suas inquietações, verdades e inverdades da vida devem ser buscadas em uma interioridade serena são capazes de avançar em direção do tão almejado potencial de neutralidade. Os demais, infelizmente, continuarão sendo transformados, de modo restrito e bestializado, em indivíduos e cidadãos fantasmas, manipulados, globalizados sim, porém incapazes de apresentar disponibilidade para realizar uma singular meditação, de obter laços concretos de amizade, de desenvolver a auto-estima e, dessa forma, continuar contribuindo para que se avolume o já existente e imenso exército de neuróticos e estressados.
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