Conselho PARA E.S.
(NELSON PASCARELLI FILHO)
Jovem, tu mentes e mentes muito e da pior forma possível – com lirismo, com rimas a causar no leitor emoções espúrias. Mentes cotidianamente e ainda tu és premiada pelas mentiras articuladas em versos e depois, aos domingos vai, com a mesma mente e boca poéticas, a despertar do sono merecido gentes humildes para ouvir as boas novas, não tão novas assim, bem conhecidas como evangelhos. Melhor seria que tu escrevas sobre a fadiga dos materiais metálicos, a paralaxe estrelar e o refinado cálculo do azimute. Jovem, abandona o teatro e a lírica, pois exceto quando se reportam à História, tudo é engodo nas bocas dos artistas, rapsodos e poetas, duplamente fingimentos, como bem disse o sábio grego Platão: “a poiesis mimética é desfiguramento da verdade e da virtude.” De bom cerne e siso, cara jovem cristã, que com refinamento estilístico, escreva textos técnicos, mas neles não cabem em estilo algum, assim tua boca será unicamente veraz e voraz, derradeiramente veraz mais que voraz, a proferir em capítulos e versículos os humores cristãos, tão somente eles, abandonando para o pó do esquecimento elegias, homenagens refinadas e dores eliciadas (todas falsas) pelo luar, crepúsculos e sorrisos pueris e sei lá mais o quê a inspirar poetas. Peço-te que leia a Bíblia diretamente do grego, tu tens capacidade para isto! As traduções dela, variantes imundas e interesses capitalistas em nome de Deus, fizeram dos textos santos um pasticho oportunista: - - não confies tu em nenhuma religião com menos de cinco mil anos!! Aliás, se tu crês no Velho Testamento, e por ele justifica parte do teu viver, segue-o por inteiro, respeitando todas as proibições e purificações do Levítico e não apenas o que é fácil cumprir nessa modernidade hiperveloz e cibernética que tu transitas loucamente. Digo-te: - te não posso omitir que admiro certo poeta-cristão, tão somente ele – o irmão de Camille Claudel. Ele converteu-se ao cristianismo ao ouvir, durante o Natal de 1886, o coro da catedral de Notre-Dame de Paris. Paul foi um desgraçado! Deixou Camille, talentosa escultora a apodrecer num sanatório por mais de quarenta anos e depois, para amenizar de si a culpa, passou a divulgar a obra dela, jovem que duplamente foi rejeitada por quem amou – Rodin, seu ilustre amante e o irmão. Fiz uma digressão, isto faz parte na nossa verve. Onde eu estava? Pois bem, faça o que quiseres fazer - talvez os ouvidos e olhos dos teus evangelizados, não devam saber que tu és poetisa, ainda em devir. Por agora, jovem E. S., aqui está de bom tamanho meu escrito, mas dentro de ti algo mudará depois que tu sofreres decepções sucessivas e deixar de repetir tudo o que está pronto para ser acreditado e consumido, e ainda reelaborar, através de desautorizações homéricas, o desejo do desejo do outro que move os ditames de tua existência. Por que levar este escrito a sério? Há nele excessivo tempero retórico, considere e cuide bem dos teus pés que te suportam e não te cobram homenagens. Antes de finalizar este esporro caquético – tu mereces bem e melhor açoite – lembrei-me de outro escritor-cristão, que supera em dignidade e obra aquele desgraçado borgonhês - Teilhard de Chardin, este sim desafiará tua Inteligência. Fique a meditar com esta frase de Chardin: “não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual, somos seres espirituais passando por uma experiência humana.” (Selá) Para Saber Mais: www.pascarellisciensead.com.br
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