Arte DE VANGUARDA NO BRASIL
(Paulo Reis)
Para compreendermos a arte nos anos 60 é imprescendível entender a questão da vanguarda. A política está atrelada no que diz respeito às produções artísticas nessa época. Pois, tanto o golpe de Estado de 1964 quanto o ato institucional n°5 (AI -5) influenciaram diretamente no campo das artes. Nesse sentido, a arte de vanguarda pretende em alguns momentos romper com essa necessidade estética. Logo, a resistência ao regime militar estará muito em voga assim como, discussões que envolvem nacionalismo, subdesenvolvimento e dependência cultural.
Mas, O que é Vanguarda? Em linhas rápidas podemos nos referir como sendo um fenômeno inserido no contexto da industrialização, capitalismo e uma sociedade de classes. O termo ganhou destaque no cenário cultural no século XX, quando algumas movimentações lançaram um olhar diferente em tudo que estava ocorrendo no mundo e em especial aqui no Brasil.
No Brasil, a discussão das vanguardas passou pelo modernismo dos anos 20 e 30, concretismo e neoconcretismo dos anos 50 e também na produção dos anos 60.
O concretismo seja na poesia ou então nas artes visuais e o expressionismo abstrato renovaram a linguagem artística do final dos anos 50 e início dos anos 60.
Foi publicado no ano de 1967 a “Declaração de princípios básicos da vanguarda”. Tratando-se de um texto coletivo passamos a estabelecer uma posição hegemônica. A criação estava ligada ao território nacional, porém, não se propunha uma visão inteiramente nacionalista. A produção artística não é nacionalista mas acaba incorporando elementos do ambiente em que vive.
Vamos embacar agora nas principais exposições de arte do período referido, levando em conta que, como o próprio autor coloca no texto, as exposições constituem um espaço público de discussão artística, trânsito entre público, artistas e debate artístico e cultural.
A primeira exposição é “Opinião 65” a qual se realizou de agosto a setembro de 1965 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com a presença de 17 artistas brasileiros e 13 estrangeiros. A questão mais discutida foi a volta da figuração na arte. Para Ferreira Gullar, a volta da figuração representa o retorno da pintura com o mundo, ou seja, com a política e sociedade. Abstrações geométricas nos traballhos de experimentação do artista Ivan Serpa chegou a ser considerada inútil, para mim, nenhuma experimentação pode receber uma comparação de inutilidade, pois, toda experiência é válida.
Opinião 65 para muitos críticos foi considerada a primeira manifestação com relação ao Golpe de 64. Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro estiveram presente na exposição. Pela primeira vez foram apresentados os parangolés de Oiticica e os popcretos de Waldemar Cordeiro.
O termo “parangolé” provém da gíria carioca que significa “animação”, “alegria”, “situação inesperada entre pessoas”. Nessa obra ocorre uma participação ativa do espectador. Ele pode vestir, andar, correr ou dançar. Considera-se a obra como uma apropriação de um caráter pop. Waldemar Cordeiro realizou pinturas com compressores de ar, levantando polêmica quanto ao rigor geométrico. O caráter concretista da pintura sobre um painel plano é substituido por um suporte carregado de significações, como exemplo disso podemos citar a obra Objeto, onde o artista realizou uma pintura sobre grade de ovos de papelão.
Na exposição “Proposta 65” realizada em dezembro do referido ano em São Paulo, na Fundação Armando Álvares Penteado concretizou aquilo que era uma afirmação da arte figurativa em oposição a abstração. Dez mulheres participaram na mostra ao contrário da carioca que teve apenas uma representante desse sexo. Peças Gráficas de publicidade foram introduzidas entre os trabalhos dos artistas plásticos, um ponto que chamou muito minha atenção. Pois, o design gráfico estaria sendo inserido em um contexto artístico, e esse debate persiste nos dias de hoje, podemos considerar o design como sendo arte e vice-versa?
No catálogo da exposição foi inserido o texto: “Propaganda: Educação ou deseducação visual em massa” demonstrando a preocupação que a sociedade capitalista estava impondo em nossa mente. Uma certa forma de manipulação. Podemos dizer então, que “Proposta 65” deixou em segundo plano a discussão de abstração e figuração e propôs a questão do realismo. A frase de Waldemar Cordeiro “Realidade da cultura de massa como contraponto da arte” demonstra bem o conceito das novas mídias (cinema, propaganda, vídeo, quadrinhos) como sendo o norteador dos trabalhos. Questões como novas possibilidades de reprodução de imagens, industrialização, design, consumo e indústria cultural tiveram um papel decisivo para o realismo como o próprio autor nos revela. É preciso pensar no fazer artístico como uma experimentação ao mundo social e acim de tudo político.
A exposição “Nova objetivade brasileira” se realizou dois anos depois das citadas anteriormente, ou seja, em 1967. Também formada por um grupo de artistas representa uma síntese das pesquisas das artes plásticas.
Por último, a exposição “Do corpo à terra” tendo como idealizador Frederico Morais em abril de 1970 em BH continou com os projetos de experimentações de cunho social e político. A arte conceitual se solidificou na mostra fazendo com que as obras se desmaterializassem.
Resumos Relacionados
- Expressionismo
- A Obra De Arte Na Era De Sua Reprodutibilidade Técnica
- Literatura
- Artista Plástico Aldemir Martins
- Propaganda Comunista
|
|