Água Negra
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Jennifer Connelly (“Uma Mente Brilhante”, “Casa de areia e névoa”, “Creepers”) apresenta o melhor desempenho de sua carreira em "Água Negra" (“Dark Water”, EUA, 2005). O filme é o melhor remake americano de um filme de terror japonês feito até hoje. É o único que evita as fórmulas utilizadas à exaustão pelo cinema comercial de suspense. Dirigido por Walter Salles, o filme tem pretensões artísticas e ignora a lógica comercial ao usar o suspense não só para entreter o público, mas para alcançar o artístico.
Como “Repulsa ao Sexo”, de Roman Polanski, “Água Negra” é sobre uma mulher lidando com seus medos em um ambiente sufocante. Dahlia Williams (Connelly) é uma mãe divorciada que se muda para um apartamento em Roosevelt Island com a filha, Cecilia (Ariel Gade). Dahlia está um pouco assustada de ter de cuidar da filha sozinha. O ex-marido, Kyre (Dougray Scott), duvida que ela possa dar conta. Scott começa interpretando o tradicional papel do “ex-marido mau”, mas pouco a pouco nos damos conta que ele é apenas um bom pai procurando o melhor para a filha. O mundo aqui não é preto-e- branco, para nenhum dos personagens.
Dahlia move-se para Roosevelt Island contra a vontade do ex-marido e de Cecilia. A menina não gosta nem do apartamento nem da escola. Bem, talvez esteja certa sobre o apartamento. O prédio está em péssimas condições. Várias coisas precisam de manutenção, mas isso não importa para o Sr. Murray (John C. Reilly), o administrador do edifício. Ele é um apostador de cavalos interessado apenas em ganhar dinheiro. Não importa tampouco a Mr. Zeek (Pete Postlethwaite), o zelador. Ele parece saber muito sobre o edifício, mas de não é de falar muito. Postlethwaite interpreta o papel do "cara esquisito" muito comum em filmes de terror, mas acrescenta alguns aspectos dos homens da classe trabalhadora americana.
Cecília é a primeira a notar coisas estranhas no prédio. Portas se fechando de repente, uma sacola Hello Kitty encontrada no terraço e aparentemente propriedade de uma menina que sumiu misteriosamente, um elevador que parece pensar por si próprio, vizinhos que fazem barulho mas nunca aparecem. Cecilia arranja um amigo imaginário, que parece ser a garota desaparecida. A pequena Ariel Gade nunca parece assustada, como uma ovelha no meio dos lobos sem perceber o perigo. Isso cria uma tensão no público que é excelente em um filme de terror.
As coisas começam a piorar quando o ex-marido solicita a custódia de Cecilia. A menina tem tido um comportamento estranho na escola com o seu amigo imaginário. Na primeira oportunidade, sua professora (Camryn Manheim) fala com o pai da menina. Agora, Kyre tentará provar que Dahlia tem alucinações e, por isso, está influenciando negativamente Cecilia. Dahlia tem agora um grande problema e contrata um advogado, Jeff Platzer (Tim Roth). O advogado se torna o elemento racional da vida de Dahlia e uma espécie de amigo.
Assim como em outros filmes (“Central do Brasil”, “Abril Despedaçado”), Walter Salles explora o lado humano dos personagens. Eles são todos solitários e financeiramente apertados. Platzer diz que tem família e escritório, mas não tem nem um nem outro. Vai ao cinema sozinho e atende os clientes dentro do carro. Dahlia tem de arranjar um emprego chato porque Cecilia necessita de plano de saúde. Dahlia se muda para um pequeno apartamento na Roosevelt Island porque existe uma boa escola lá, mas também porque não pode pagar por um bom local em Manhattan. A Nova York de Walter Sales é uma cidade de solidão, trabalho duro e despesas altas.
Jennifer Connelly é o centro do filme. Dahlia é uma mulher autoconfiante no início. No entanto, mais e mais, reagindo às situações estranhas no apartamento, torna-se uma mulher cuja saúde mental é questionável. Jennifer Connelly constrói o personagem em camadas, indo gradualmente de uma simples mãe divorciada para uma mulher complexa, urbana e de extremos emocionais. Como uma atriz não - regular de filmes de horror, Connelly traz frescor ao gênero. O seu trabalho é uma mistura de técnicas de atuação de drama e horror. Tecnicamente preparada, Connelly transita entre os dois universos sem perder o equilíbrio da atuação.
O essencial em "Água Negra" é a idéia de que os verdadeiros fantasmas são aqueles dentro de nós. Dahlia tem que lidar com seus próprios temores para retomar o controle de sua vida. Como em "O Bebê de Rosemary”, nós nos perguntamos o filme todo se há realmente algo sobrenatural ou tudo são apenas alucinações de sua infância perturbada. O terror é na maioria das vezes implícito e se mostra através de espaços claustrofóbicos, movimentos estranhos de elevador e, claro, água negra proveniente das torneiras, das paredes ou da chuva. O filme usa elementos expressionistas, tão caros à tradição clássica dos filmes de terror (“Nosferatu”) - especialmente na arquitetura dos espaços e na composição de cores.
"Água Negra" é um avanço na linguagem psicológica dos remakes de filmes de terror japoneses. Nenhum outro remake do gênero foi tão longe, artisticamente falando. O de maior sucesso, “O Chamado”, é um filme puramente comercial. Já “Água Negra” é tão artístico quanto "Psicose”. A direção é verdadeiro artesanato. A tensão é construída lentamente e só atinge o clímax nos últimos minutos. A fotografia em tons escuros, o sentimento sufocantes de ambientes sempre fechados e a presença constante da água negra é o palco para a interpretação densa e psicológica de Jennifer Connelly.
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