Perfis masculinos e femininos em Senhora, de José de Alencar
(Valdeci Rezende Borges)
Uma mulher com um comportamento desviante em relação ao que a cultura de sua época ditava. Essa mulher, segundo o professor Valdeci Rezende Borges (2005; link abaixo), é Aurélia, personagem de Senhora, de José de Alencar (Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997). Na segunda metade do século XIX, no contexto romântico, interessava a Alencar, portanto, as atitudes que se diferenciavam do estilo de vida dominante. No artigo “Perfis masculinos e femininos em Senhora, de José de Alencar”, Valdeci Borges analisa o painel da sociedade carioca pela perspectiva romântica de Alencar nessa obra. O objetivo é problematizar as concepções de natureza, de sociedade, de masculinidade, de feminilidade e de amor aí expressadas, com destaque para as práticas sociais, os valores morais e os comportamentos de homens e mulheres, tantos os considerados comuns quanto, e mais detalhadamente, aqueles que entram em atrito com os padrões de normalidade. Alencar fez, de fato, uma leitura política da sociedade imperial fluminense. Senhora, tornado público em 1875, é tido como o romance urbano mais importante de Alenca. Sua personagem principal, Aurélia, é a representação do fulgor e da apologia à moral; é construída em torno da noção de que, nas faixas mais populares, ainda não contaminadas pelas premissas e comportamentos burgueses, se localizam a alma e o espírito de pureza, de honradez e de caráter íntegro. Aurélia é a corporificação da beleza e da construção moral forte, num contexto social popular e tradicional. É a criança órfã que, ao adquirir uma herança, sofreu transformações abruptas em suas atitudes e circunstâncias sociais, mas sem perder seus valores e caráter. Entre interesses econômicos e da sociedade da corte, Alencar condenava o que observava em seu entorno, criticando o contexto urbano. De fato, Senhora é a apresentação da contradição entre o amor e a riqueza, o conflito do individual com o social, numa espécie de denúncia da mercantilização e do empobrecimento das relações humanas, especialmente no que Alencar aponta como o mercado matrimonial, em que o casamento era visto como um “negócio” de conveniência. Nesse contexto, Aurélia resistiu a diversos pretendentes, fazendo a escolha por casar-se por amor com Fernando Seixas, folhetinista e funcionário público, com quem viveu um relacionamento de ambigüidade e conflito. Essa relação era caracterizada pelo interesse econômico e material de Seixas e pelo encantamento sentimental e afetivo de Aurélia. Nesse mercado matrimonial, Aurélia e Seixas passam pelos confrontos típicos de uma transação comercial, o que se expressa na estrutura do romance, dividido em partes chamadas de O preço, Quitação, Posse e Resgate, objetivando a representação do desenvolvimento dos sistemas bancário e financeiro na sociedade fluminense e a aceitação de sua linguagem no seio da sociedade. Valdeci Borges finaliza seu artigo retomando como Alencar deu ênfase, em sua polêmica com Joaquim Nabuco, ao fato de que em seus “perfis de mulher” não interessava o comportamento de caráter comum e geral de seu tempo, mas a “originalidade e aberração do viver comum” e as “exceções, ou idiossincrasias morais que se tornam curiosas”, em nome da transformação da sociedade.
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