Por falar em Paulo Coelho ... (O Mago)
(Fernando Morais)
Nunca li nada escrito por Paulo Coelho, nosso maior escritor - em volume de vendas, bem entendido. Não que eu cerre fileira com os críticos do parceiro de Raul Seixas, ao contrário, pois até agora só vi nos ataques feitos a ele uma espécie de modismo (é “in” dizer que o PC escreve mal). O fato é que seus escritos nunca me despertaram o interesse, embora seja bom consumidor de livros. Mas depois que li a biografia escrita pelo Fernando Morais (O Mago) me decidi a conhecer o que o Paulo Coelho tem a dizer.
O que me chamou a atenção não foi o fato dele ter vendido mais de 100 milhões de exemplares, ser o autor vivo mais traduzido do planeta, ou ter entre seus fãs o russo Vladmir Pútin e o norte-americano Bill Clinton. O que me motivou ler Paulo Coelho foi saber que ele é tão Zé Mané quanto qualquer um de nós. Talvez essa condição explique a legião de críticos do escritor, Zé Manés que “conhecem seu lugar” e se sentem agredidos ao se depararem com um igual que ousou brilhar.
Mas bastou eu comentar que iria ler o “Mago” e logo alguém me presenteou com sua mais recente obra, “O vencedor está só”. Dei uma rápida folheada e logo deixei de lado. Nada em especial, apenas não me atraiu. Vou ter que me esforçar para ir até o fim. Pelas poucas páginas lidas deu para perceber que, de fato, a redação de PC não constitui um texto saboroso, desses que fluem. Diria mesmo que passa ao largo da norma culta, mas a culpa cabe à editora, que deveria adotar, senão uma revisão de estilo, uma revisão ortográfica. Não que haja erros grosseiros, mas problemas de pontuação que tornam a leitura uma espécie de corrida de obstáculos extenuante. Ganhei também o “Diário de um Mago”, que igualmente apenas folheei, para as mesmas constatações. Assim, continuo sendo um dos poucos Zé Manés que não leu Paulo Coelho – e talvez esteja perdendo muito com isto.
Quanto à biografia do dito cujo (O Mago, Editora Planeta, 630 páginas) é uma obra que merece ser lida, mesmo que não constitua o trabalho mais brilhante de Fernando Morais. Certamente poderia (e deveria) ser resumida na metade do número de páginas. Relata uma série de passagens absolutamente sem importância, registros de seus relacionamentos afetivos, a viagem com um primo pelos Estados Unidos, a experiência homossexual, entre outras, são páginas absolutamente dispensáveis.
Minha percepção é de que Paulo Coelho não é um personagem apaixonante, sua vida e aventuras não cativam o leitor, sua obra não vai marcar a humanidade e ele provavelmente não terá uma morte trágica. Não cumprirá a saga do parceiro Raul Seixas. Não é comparável a Érico Veríssimo, nem a Jorge Amado. Não é um Airton Sena, um Pelé, um João Gilberto. Paulo Coelho se assemelha mais a Lula da Silva, Silvio Santos, Paulo César Caju ... Enfim, um Zé Mané que não conhece o seu lugar, ao contrário de tantos e tantos Zé Manés conformados com seus destinos mais ou menos.
Paulo Coelho não é um vitorioso por seu sucesso financeiro e editorial, mas porque enfrentou e venceu desafios poderosos, como as drogas pesadas, o ocaso da celebridade, as forças espirituais negativas, a mídia de padrão único e outros tantos. A história da Humanidade é feita por Zé Manés como ele, gente que enfrentou forças poderosas e sobreviveu para contar a história – e ensinar a quem quiser aprender. Esta, aliás, a síntese do livro mais importante da Humanidade, a Bíblia – revelação para uns, história para outros, ficção para outros tantos -, mas, sem dúvida, o maior repositório de sabedoria de que se tem conhecimento. Guardadas as devidas proporções, é nesse sentido que estou decidido a ler Paulo Coelho: aprender com quem derruba impérios.
P.S. De Fernando Morais, leiam também Chatô, Montenegro e Corações Sujos.
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