Espaço identidade e património
(Castelnou)
Os novos movimentos sociais e culturais, tem-se voltado cada vez mais, para a reconstituição e reconstrução de práticas tradicionais. Em parte porque se quer encontrar um ponto de identidade, e em parte para corresponder às expectativas ambientalistas muito em voga nos dias
que correm. Este movimento tem também se alastrado à arquitectura, em particular à arquitectura associada ao turismo rural.
Os espaços de cariz mais tradicional ou “primitivos” - no sentido de rudimentares - foram ao longo do tempo, criados e edificados por indivíduos sem uma formação formal, por meio de um processo de experiência e erro. Estes espaços são chamados de vernaculares.
Durante muito tempo, só as obras de grande envergadura, e de grande majestade, reflexo do domínio da ciência e da técnica eram merecedoras de admiração e técnica, tendo assim as habitações mais modestas e de produção individual, anónima e autodidacta ficado fora de uma
abordagem crítica mais profunda.
A revitalização destes espaços, e a nova importância que lhes é dada está, como já foi referido, relacionada com um regresso às origens, com a vontade de encontrar e manter uma identidade passada.
Foi principalmente a partir da Renascença, com o estabelecimento das primeiras escolas de arquitectura, que a análise formal e formada passou a submeter a produção vernácula a um plano inferior, relacionando-a a uma forma de criação de menor qualidade ou valor. Com o tempo, a distância entre estes dois tipos de produção foi aumentado ao ponto da “arquitectura vernacular” ser completamente menosprezada. Este facto foi intensificado com o advento do industrialismo. Do século XIX em diante, os conhecimentos científico-tecnológicos acabaram por catalogar de exótica qualquer prática que se afastasse dos pressupostos ditos modernos, que defendiam o uso de materiais artificiais, assim como a criação de espaços fundamentada em princípios funcionais e técnicos.
O apogeu desta abordagem deu-se na primeira metade do século passado, a partir do momento em que passaram a existir correntes de recusa ao racionalismo arquitectónico e de defesa de novas formas de compreensão da arquitectura. Neste pondo deu-se o interesse pelas diferentes
culturas que compõem o mundo contemporâneo, abandonando uma visão hegemónica e abrindo-se a arquitectura a novas experiências e teorias.
Por outro lado, são as recentes preocupações ambientais e a optimização e adequação dos materiais e dos espaços ao meio ambiente envolvente, que tem também promovido um reacender da atenção da arquitectura para estes espaços mais simples.
Estes dois modos de produção de espaços arquitectónicos, embora de base antagónica não são mutuamente exclusivos. Existe uma relação íntima entre ambas as formas de produção e ao longo do tempo essa influência mútua tem-se evidenciado (exemplo: a construção de casas com
formas idênticas às que se verificam noutros países, por parte dos emigrantes).
A arquitectura vernacular é a representação factual da técnica construtiva e da ideologia global de uma determinada cultura, tendo como referencia a tradição local e a sabedoria popular.
Numa fase de maior maturidade da arquitectura vernácula, esta forma de construção oferece algumas alternativas ajustadas ao contexto climático e ecológico e foi nesta medida que foi repescado pelos arquitectos actuais (Castelnou, 2003).
O espaço vernacular na sua vertente primitiva é produzido como uma somatório de conhecimentos disponíveis a partir dos recursos que o meio ambiente oferece. Este tipo de arquitectura não tem
subjacente uma divisão social de trabalho, já que a pessoa que constrói o espaço, é a mesma que o vai habitar. Em termos históricos, este tipo de arquitectura é evidente a partir do primeiro contacto que se estabelece entre os povos colonizados e os povos colonizadores, quando se constrói com o
material disponível procurando copiar modelos alheios ou fazendo adaptações.
A arquitectura regional, tem as suas raízes numa terra ou lugar específico e resulta das necessidades e convivência da economia e do meio físico e social particular. De modo vernacular adapta-se às condições do ambiente natural sendo uma expressão física do meio e também
antropológica, na medida que reflecte a dinâmica estabelecida entre o homem e o meio.
Em suma, estes espaços vernáculos, assumem múltiplas importâncias no contexto actual. Entre elas encontra-se a procura, a busca de uma identidade a partir do “fazer tradicional”, do replicar de práticas ancestrais, como forma de encontrar uma maior sintonia, uma sintonia passada, entre o homem e o meio ambiente.
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