O Ócio Criativo - parte I
(Domenico DeMasi)
Esse livro é uma entrevista do autor feita pela jornalista Maria Serena Palieri
Esse livro ficou muito tempo em minha estante esperando que fosse lido. No princípio foi um pouco difícil acompanhar as ideias, pois o autor nos coloca a par de uma grande história, a da humanidade e da construção da sociedade passando por: sociedade rural, sociedade industrial e sociedade pós-indutrial.
Faz o leitor viajar um pouco no tempo e perceber que a história da humanidade é a história da intervenção humana na natureza para domá-la. Um grande filósofo russo, Alexandre Koyré, escreveu: “não é do trabalho que nasce a civilização: ela nasce do tempo livre e do jogo.” Isso valia talvez para uma época em que era possível distinguir o trabalho do jogo, porque a maior parte dos trabalhos era de natureza física e provocava cansaço.
E entre tantos conceitos e de tanta história começa uma longa entrevista sobre o trabalho, o tempo livre e a diversão, como diz o provérbio espanhol: “Hombre que trabaja pierde tiempo precioso.”
Quando eu já estava na metade do livro começou a fazer sentido para mim, toda a outra primeira parte. Por isso, resolvi primeiro escrever sobre as mudanças ocorridas ao longo da história da humanidade, alguns fatos interessantes para serem pensados.
Ao longo da história do homem há mudanças extraordinárias, onde o homem criou a si mesmo. Todas decorrentes da compensação de nossos defeitos. Dica: livro de Rita Levi Montalcini, O elogio da imperfeição.
Por exemplo:
Com o nosso olfato fraco, tínhamos que avistar a presa, por isso deveríamos caminhar em pé. Especializamos as mãos para construir objetos de caça para compensar a fraqueza da nossa mandíbula.
Invenção fundamental: machado atirado é perdido, mas a flecha é substituível. Toda a energia é concentrada num só ponto e num só instante, mas a parte essencial da arma permanece em poder do caçador. Primeira expressão estética do ser humano de que se encontrou um rastro: pontas de flecha em forma de amêndoa, período da idade da pedra. Decoradas com um desenho de folhas que se assemelham a folhas de louro.
Descoberta da beleza como compensação para a dor. A estética o conceito dela, mais do que qualquer outra coisa, é responsável pela nossa felicidade. Não melhora a eficiência ou a virulência da flecha, porém a embeleza.
Descoberta da eternidade como compensação para a morte. Primeira sepultura data de 90.000 anos atrás.
6.000 anos A.C houve a descoberta do cultivo das sementes, o que proporcionou a nossa espécie humana planejar o futuro. As mulheres foram as protagonistas dessa história, uma fase matriarcal, onde ela percebeu que havia algo melhor do que recolher frutas caídas: “cultivá-las”.
O macho substitui então a caça pela criação de animais, trabalho menor já que não precisaria perseguir animais adultos, mais perigosos, rebeldes e que fogem. Atividade de pastor permite dominar os animais desde o seu nascimento.
Estamos habituados a desempenhar funções repetitivas como se fôssemos máquinas e é necessário um grande esforço para aprender uma atividade criativa, digna de um ser humano. Por isso “é mais fácil perder o trono que perder o hábito” Ferdinando IV de Bourbon.
O autor relata que a mudança assusta sempre. E assusta tanto mais quanto mais se aproxima do âmbito genital, no sentido etimológico da palavra, isto é, da origem da vida; pois parece-nos a violação de um esfera sagrada, desconhecida. 7.000 anos atrás adquirimos a consciência de que para ter filhos, os machos também eram necessários. Era uma esfera circundada de mistérios e sacralidade como o tabu mais inviolável, quase como se não dependesse de fatores físicos, mas somente da intervenção divina.
Imagina a mudança incrível de paradigma no momento em que o sexo masculino percebe que influência na procriação? Surge então uma sociedade patriarcal.
Observe que na época rural o camponês e o artesão viviam no mesmo lugar em que trabalhavam, o tempo que dedicavam ao trabalho misturava-se ao das tarefas domésticas, ao dedicado a cantorias e outras distrações. Foi a indústria que separou o lar do trabalho, a vida das mulheres da vida dos homens, o cansaço da diversão.
Na sociedade pré-industrial a esfera emotiva era hiper poderosa, pois não se tinha a menor idéia do porquê de uma raio, a culpa era atribuída a júpeter, as doenças como tratar? Preparava-se poções contra mal olhado e assim por diante. Com o passar do tempo uni-se a emotividade com a racionalidade. E para ser criativo, é essencial o cruzamento entre racionalidade e emotividade.
Sempre consideramos o trabalho relacionando-o a algo que se exige esforço, cansaço físico ou fadiga e desejamos que acabe logo.
Na parte dois desse resumo escreverei mais sobre a relação trabalho, cansaço, criatividade, lazer e o ócio criativo.
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