Nos limites da autonomia: reflexões sobre práticas de Blind review e e
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As questões escolhidas para serem analisados foram: os modelos internacionais devem inspirar a nossa construção do conhecimento? Como a comparação entre o sistema brasileiro e o de outros países pode nos auxiliar a melhorar a qualidade da nossa produção científica? Qual a contribuição do processo de revisão de congressos e revistas acadêmicas e sua relevância para a produção do conhecimento?
Os autores fazem referência a outros estudiosos, tais como CARVALHO e VIEIRA, 2003 para alertar para o risco de pesquisadores brasileiros incorporarem produções estrangeiras como modelos, sem maiores reflexões e críticas, e dessa forma produzirem textos inadequados à realidade brasileira. Nessa reflexão, fica o alerta para que o conhecimento em administração no país não seja prejudicado.
Uma contribuição importante trazida por este artigo está no fato de ele questionar os fatores que explicam as diferenças entre a produção acadêmica brasileira e a internacional: instituições, mercado e cultura local.
Ao frisar a questão de mercado foi levantada uma problemática referente a qual é a responsabilidade dos autores na superação da diferença de qualidade entre as publicações nacionais e internacionais e, referindo-se a BERTERO (2007), sugere que os autores adquiram o hábito de ler periódicos internacionais se quiserem publicar neles.
A questão da cultura local foi trabalhada ao fazerem referência à responsabilidade dos pareceristas, a cultura é utilizada como elemento explicativo para o fato de os artigos serem aceitos ou rejeitados. Neste ponto, é discutida a questão da ética e da moralidade dos pareceristas. Desse modo, os autores recorrem à compreensão de Kant em torno do que venha a ser autonomia para afirmar que é preciso questionar a proteção incondicional da preponderância do parecer sobre o processo decisório de aceitação de um artigo.
No entanto, o diálogo com Kant poderia ter sido mais bem explorado no sentido de situar as questões que para ele eram importantes, o que ele estava colocando em debate e o momento em que ele escreve com a finalidade de situar melhor essa discussão para o leitor.
Uma das grandes contribuições deste artigo está na constatação de que muitos pareceristas podem estar fazendo seus respectivos trabalhos, seguindo requisitos sem, no entanto, engajar-se de forma ética e moral na atividade de revisão. Ou seja, as atividades dos pareceristas não são práticas “naturais”, todos contêm valores e pontos de vista que muitas vezes estão de acordo com instituições, o que é chamado de decoupling. Para dar continuidade a tal debate, os autores pesquisaram em revistas nacionais e internacionais para identificar processos de revisão e publicação de trabalhos científicos mais praticados. Os procedimentos adotados a partir da reunião de dados primários e secundários que puderam ser percebidos nessas revistas, inclui a identificação de alguns aspectos semelhantes compartilhados por revistas, entre eles aparecem: a decisão a respeito da publicação ou não de um artigo cabe ao editor; o artigo a ser revisado é encaminhado para dois ou três pareceristas; a autonomia dos revisores deve ser respeitada pelos pareceristas; os revisores têm o direito de não avaliar o artigo se eles não abrangerem suas áreas de especialidades.
É relevante considerar a observação de que essas conclusões não devem ser generalizadas ou tomadas como um modelo fechado.
Por meio dessa estratégia de investigação criada pelos autores eles constataram uma diferença importante entre as revistas brasileiras e internacionais. No Brasil os revisores têm assumido papel fundamental, enquanto em outros países este papel é atribuído aos editores. E isso tem sido visto como problema para alguns autores que identificam suas avaliações como superficiais e suas idéias como pouco maduras.
Após ler o artigo atentamente é preciso fazer a seguinte interrogação: quanto tem sido discutido a respeito da autonomia dos autores? Isso tem sido considerado como um elemento de avaliação? A autonomia dos autores tem sido valorizada? Questões como essas auxiliam a refletir sobre os modos como o conhecimento científico vem sendo socializado no país, os elementos valorizados ao se decidir publicar ou não um artigo e, sobretudo, permite que não fiquemos reféns dessa dicotomia existente em torno dos papéis de editores, revisores e autores.
Para além das válidas sugestões apontadas neste artigo, é preciso acreditar que do mesmo modo que é cobrada uma maior participação de editores e conselhos editoriais no processo de construção do conhecimento científico em Administração no Brasil seria importante desencadear uma reflexão sobre a autonomia dos autores e suas produções nas mais diversas áreas do conhecimento.
Referências:
KIRSCHABAUM, Charles. MASCARENHAS, André Ofenhejm. Nos limites da autonomia: reflexões sobre práticas de Blind review e editoria de revistas científicas em administração no Brasil. In: RAE – eletrônica, v8, n.1, art. 5, jan/jun.2009.
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